ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A escola vai ao cinema e vice-versa |
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Autor | Ana Paula Nunes |
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Resumo Expandido | Atualmente, podemos dizer que nascemos, crescemos, reproduzimo-nos e morremos mergulhados em um complexo universo de imagens e sons. As diversas mídias de comunicação estão presentes em cada minuto de nossas vidas. Em diversos sites de relacionamento, temos vídeos caseiros registrando nascimentos, os primeiros passos de bebês e todo tipo de fatos relevantes de uma vida. Muitos destes vídeos, alguns feitos com celular, já contam com montagens e trilha sonora, além de efeitos visuais e sonoros. Muitas crianças só se alimentam em frente à televisão, que é a “babá” mais barata e requisitada que existe. Muitos aprendem a falar antes de “papa” e “mama”, o nome do desenho animado preferido.
No entanto, ainda não aprendemos a ler e a escrever com as imagens e sons na escola. Dizer que o cinema (bem como as outras expressões audiovisuais) deveria fazer parte do currículo escolar desde o ensino fundamental, não é novidade. Antoine Vallet, em 1968, em seu livro Du Cine-club au langage total, já relatava sua experiência de vinte anos de trabalho com cinema e educação. Na América Latina, em 1970, foi desenvolvido o projeto do SAL-OCIC (Secretariado para América Latina da Organização Católica Internacional de Cinema), no Centro de Orientación Cinematográfica de Quito, o PLAN DENI (Plano de niños), unindo inicialmente Peru, Uruguai e Brasil, posteriormente também República Dominicana, Paraguai e Bolívia. Deste projeto, com inspiração na “Linguagem Total” de Vallet, nasceu o CINEDUC – Cinema e Educação, no Brasil. Em 2010, o Cineduc faz 40 anos de luta para a inclusão do cinema (entendido aqui como uma referência fundante para todo o audiovisual) na pauta da educação formal. Ressalvando, como já disse Vallet, a respeito da comunicação em geral, que “non pas, seulement, répétons-le, utiliser ces techniques pour l’enseignement de l’histoire, des sciences, de la géographie, mais les étudier d’abord pour elles-mêmes, comme moyens d’expression et de communication et comme formes d’art”. (1968, p17) Para o sociólogo Pierre Bourdieu, a educação institucional é um dos principais indicadores de legitimação de um campo, isto é, quando um campo específico está inserido no sistema educacional, é sinal de que é um campo legítimo, que já passou por um longo processo de institucionalização, já é consagrado e reconhecido “naturalmente” como autoridade simbólica, mais precisamente, tem suas regras de constituição desconhecidamente aceitas. No Brasil, apenas recentemente a educação começou a olhar com mais cuidado para o cinema, incluindo-o no vestibular e estimulando o surgimento de cineclubes. Na verdade, os professores de ensino fundamental e médio estão buscando conhecer linguagens que já fazem parte do universo dos alunos, o habitus não é formado só pela escola, a cada dia surgem novas redes de socialização, virtuais ou não, que muitas vezes substituem a função de transmissão de habitus para crianças e adolescentes, que antes pertencia majoritariamente à instituição escolar. São os alunos que “ensinam” hoje aos professores a lidarem com a grande diversidade de produção de imagens. Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma das experiências do Cineduc, o projeto “A escola vai ao cinema”, do SESC Nacional, desenvolvido em regionais do SESC espalhados por todo o país. O projeto (2003-2007) foi dirigido principalmente aos professores do ensino médio e fundamental, para que estes se tornassem agentes multiplicadores da democratização da linguagem audiovisual. Como membro do Cineduc e participante do projeto, proponho uma exposição crítica, uma espécie de auto-análise com fins de socialização da experiência de uma ONG que já tem uma história de erros e acertos, em um campo que vê atualmente uma multiplicação de práticas. Trata-se de uma busca de comunhão de sonhos, em especial, o sonho de termos uma educação crítica, afinal: “Não existe ato mais revolucionário do que ensinar um homem a enfrentar o mundo enquanto criador” (GARAUDY, 1980, p184). |
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Bibliografia | BERGALA, Alain. A Hipótese-Cinema. RJ: Booklink e CINEAD/UFRJ, 2008
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