ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A COR NO CINEMA DE ANTONIONI |
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Autor | YANET AGUILERA VIRUEZ FRANKLIN DE MATOS |
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Resumo Expandido | A cor desempenha papel fundamental nas imagens abstratas dos filmes de Antonioni. Ela é um elemento central para a problematização das diversas relações plásticas e diegéticas que fazem parte da composição dos planos narrativos de sua obra cinematográfica. Nos filmes preto e branco, os enquadramentos geométricos de uma variedade de cinzas – imagens de marginais , de ruas, de parte de prédios em construção etc. – levam a um questionamento sobre a definição da própria cor no cinema. Dado que podemos definir a cor como a capacidade de uma superfície refletir parte da luz que incide sobre ela, considerarmos os tons pretos e cinzas como cor, porque selecionam a intensidade da luz incidente. Então, não haveria uma oposição conceitual significativa entre os filmes preto e branco e os coloridos. Essa maneira de quebrar com divisões construídas historicamente – preto e branco oposto à cor – faz parte do repertório plástico das fitas de Antonioni, pois ele é capaz de nos revelar tanto uma diversidades de cinzas, criando uma paleta colorida das mais variadas nos filmes em “preto e branco”, assim como uma paleta monocromática – marrons, vermelhos , verdes etc. – nos coloridos. Dessa maneira, vemos como o tratamento da cor no cinema de Antonioni é essencialmente substantivo, criando um amplo campo de possibilidades formais e estéticas do uso e da função da cor no cinema.
Esses elementos essencialmente plásticos contribuem para desalojar as personagens e objetos do foco perceptivo do enquadramento. Entretanto, não se pode falar, como em geral a sua fortuna crítica fez, de um quadro vazio, pois mesmo esvaziados de personagens, os planos são extremamente elaborados. Essa sofisticação não pode ser considerada um mero formalismo, pois ela está a serviço de um questionamento da estrutura espacial do enquadramento. Por exemplo, entre outras coisas, se relativiza a relação entre primeiro plano e fundo – uma cor ou uma luz forte no fundo redimensiona a relação perceptiva que normalmente se estabelece numa visão perspectiva –, dando à profundidade de campo um valor que não está a serviço de um possível referente ou de um percurso literário. O destaque de pontos de cores fortes dentro de um plano quase monocromático, nos leva a perceber, não apenas o caráter bidimensional da tela, mas o de abrir nessa superfície plana, espaços perceptivos não hierarquizados ou, pelo menos, não necessariamente subordinados a uma função diegética. Planos inteiros preenchidos por cores constituem imagens válida por si mesmas, que não se reduzem a veículos de seus referentes ou a possíveis significados simbólicos ou psicológicos do enredo, eles remetem à materialidade físico-química do objeto-filme. Essas questões elaboradas através da plástica fazem parte do repertório de todos seus filmes (alguns críticos classificam-no dentro da categoria de cineastas pintores). Entretanto, a cor, o enquadramento, o foco e os elementos que constituem seu cinema pictórico não se reduzem, volto a repetir, a um mero formalismo. Eles aparecem para problematizar as relações hierárquicas predominantes que se estabeleceram no cinema entre narrativa e imagem. Não pretendemos defender uma leitura essencialista da imagem, pois mesmo a cor nunca é natural,é sempre construída. Tampouco se trata de pensar a imagem independente da linguagem – Wittgenstein já mostrou que só pela linguagem temos uma compreensão da cor, um dos elementos mais abstratos da imagem. O objetivo é de redescobrir relações plásticas que são fundamentais para a leitura das imagens no cinema. Embora só tenhamos acessos à plástica através da linguagem, uma análise detalhada dessas relações abre percursos que podemos até considerá-los narrativos, mas que não estão subordinados e levantam questões independentes daquelas elaboradas pela ficção literária desenvolvida pelo cinema. |
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Bibliografia | Aumont Jacques. "O Olho interminável: Cinema e Pintura". Trad. Eloísa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac&Naify, 2004.
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