ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | O diálogo das artes |
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Autor | Fabiana Crispino Santos |
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Resumo Expandido | Na contemporaneidade, as alterações provocadas pela mundialização, a emergência de novas configurações de sociabilidades e as possibilidades geradas pela combinação entre a era digital, as novas tecnologias, e a exploração de novos suportes e novas mídias remete para a abertura dos limites e a revelação das tênues fronteiras dos campos da arte, bem como a possibilidade de convergência entre eles. Levando-se em conta tais questões, o intuito desta reflexão é o de reconhecer a circulação entre os meios como matriz do processo de criação de determinados filmes contemporâneos, como, por exemplo, Abraços partidos (2009), do diretor espanhol Pedro Almodóvar.
A iniciativa de cruzamentos na arte remete ao ideal transartístico proposto pelas vanguardas históricas, um atravessamento de influências variadas sendo orquestrado através da mediação do artista. Nessa ótica, a arte é vista como um sistema de redes em permanente interação no qual as referências funcionam como textos expandidos e deslizantes tecendo entre si diálogos e sobreposições. Assim, a escolha da organização do todo arte a partir da soma de suas partes – os campos específicos da produção artística, com características próprias e independentes, como é o caso do cinema – deve ser reconsiderada. Da mesma maneira que a divisão definitiva entre a alta arte e a cultura de massa parece extremamente improvável, as formas de expressão cultural se associam em tal grau que é preciso inclusive reavaliar o estatuto e a hierarquia de cada uma delas. Mais ainda, a combinação entre a herança dos procedimentos vanguardistas, o horizonte aberto pela transtextualidade e as novas tecnologias alteram definitivamente a maneira como as categorias da arte foram compartimentalizadas e produzem o seu conteúdo. Pode-se argumentar que há uma tendência na atualidade das obras já serem pensadas a partir da sua possibilidade de circulação em diversas mídias, que ultrapassam os suportes tradicionais, e esta circulação nos obriga a dar um novo tratamento para a questão da distinção entre as esferas da arte, os suportes e as suas hierarquia. O cinema, por já surgir da impureza da interseção entre diversas expressões artísticas, é um espaço preferencial para pensarmos a transmediação e a convergência dos campos da arte. Essa argumentação é a chave de leitura do filme selecionado. Bem antes de ser finalizado para entrar no circuito de exibição, Abraços partidos já contava com um site no qual o diretor publicava relatos atualizados sobre o dia-a-dia das filmagens, as idéias que estavam sendo desenvolvidas no roteiro, na fotografia e na montagem, sua relação com o elenco e algumas das escolhas ligadas ao figurino, aos cenários e às locações. Até o fim das filmagens, as pessoas podiam acompanhar, como se estivessem lendo um diário virtual em formato de blog, o testemunho de Almodóvar, algumas imagens inéditas dos sets e as etapas da produção. Além disso, o filme segue a tendência desenvolvida pelo restante da obra do diretor espanhol. A ficção almodovariana é trabalhada com a mesma iniciativa criativa em suportes distintos, tanto nos longa-metragens quanto nas produções literárias (os livros Patty Diphusa e Fogo nas entranhas) e nos ensaios e crônicas disponíveis no blog, e é um dos fios condutores que estrutura a produção do cineasta nas várias mídias. Em entrevista ao jornal El País, Almodóvar declarou que seu principal motivador é o fato de que “no cinema, como em qualquer arte, deve-se buscar a cumplicidade e a reciprocidade” . Ele se mostra aberto à criação transtextual, na qual as áreas e os suportes se voltam uns aos outros em busca de interferências e deslizamentos como estratégia para explorar um duplo código, a conjugação entre uma cadeia narrativa linear e os entrecruzamentos transtextuais. Abraços partidos é também uma homenagem ao processo de criação do cinema, a vários momentos de sua história, e aos filmes do próprio Almodóvar, que aparecem referenciados várias vezes ao longo da trama. |
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Bibliografia | ALMODÓVAR, Pedro. Los abrazos rotos. Disponível em: http://www.losabrazosrotos.com/pressbook.php. Acesso em 26 de junho de 2009.
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