ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Pontos de escuta: dissociação entre imagem e som |
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Autor | Nelson Pinton Filho |
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Resumo Expandido | Este trabalho propõe estudar a união cooperativa de duas vertentes estéticas sonoras do século XX, a música concreta de Pierre Schaeffer que culmina no “desenho sonoro” e o “paisagista sonoro” de Muray Schafer.
O século XX revela para a história da música ocidental uma nova definição, antes puramente entendida sobre o prisma de sons provenientes de instrumentos, regidos por uma lógica harmônica/ melódica coerente com a evolução do sistema tonal. Eis que os sons tornam-se gritantes aos ouvidos do homem contemporâneo, sem a delicadeza das paisagens campesinas e de seus sons provenientes da natureza. O motor, as fábricas, o agitar incessante das metrópoles alteram o comportamento e por consequência a escuta humana. É neste ambiente de metade de século que surge John Cage, compositor e pensador, provocando os ouvintes a escutar o silêncio e os ruídos provenientes da sociedade moderna. A música são os “sons a nossa volta”. Nesta linha no final dos anos sessenta surge Muray Schafer; seu livro “ O Ouvido Pensante” propõe um novo tipo de escuta tornando os ambientes sonoros menos poluídos e mais agradáveis: “ Eis a nova orquestra - o universo sônico!” (SCHAFER, 1986) No início da década de 1960 os avanços no campo da gravação analógica multi-canal permitiram a simultaneidade de combinações dos elementos sonoros, propiciando aos compositores um campo fértil para a manipulação e edição. Nesta cena surge Pierre Schaeffer que classifica morfologicamente os sons em seu Traité des Objets Musicaux, Temos então que o conceito de paisagem sonora, definido por Murray Schafer e o surgimento do desenhista de som (sound designer), difundido por Walter Murch, antes independentes, aproximam seus legados a partir da década de 1970 tendo como meio expressivo o cinema. O trajeto de associar sons às imagens perdura ao longo da história vinculado ao uso significativo de ambas as linguagens (visual e sonora). A definição de “contrato audiovisual” (CHION, 1990) enquadra perfeitamente a noção de contraponto, sendo que as percepções (visuais e auditivas), influenciam-se mutuamente, emprestando uma a outra suas respectivas propriedades por “contaminação” ou projeção. Nos filmes propostos para estudo de caso o “contrato audiovisual” é legitimado, já que os sentidos são levados cognitivamente a compreender informações opostas. O paralelismo do conceito de leitmotiv ganha uma nova construção entre os aspectos objetivos da imagem e a subjetivação musical; subjetividade utilizada muitas vezes como “valor acrescentado” (CHION, 1990), campos nos quais a imagem não consegue chegar (como por exemplo, estados interiores dos personagens) ou no caso de Van Sant planos sequências que perduram por mais de dez minutos onde ouvimos sons que, em primeira instância, não pertencem a imagem vista apesar de conter elementos atmosféricos de sua ambiência. As paisagens sonoras criadas por Hildegard Westerkamp para Last Days foram incorporadas posteriormente as cenas, a exemplo da composição “Doors of Perception” como explica a compositora: “A maneira pela qual Gus van Sant e Leslie Schatz (sound designer) escolheram a peça e aplicaram em seu contexto, fazendo-a funcionar, surpreendeu-me! ”1 (OFFSCREEN: VOL. 11, NOS. 8-9, AUG/ SEPT 2007). Isso demostra a união cooperativa entre o desenhista sonoro e o compositor de paisagens sonoras. Essa pesquisa ao investigar a construção poética dos espaços sonoros/visuais e a contaminação que o conceito de trilha sofre com a inserção das paisagens sonoras no fazer do desenhista de som, pretende contribuir para as reflexões do campo da teoria cinematográfica, para o estudo da trilha sonora e, principalmente, sobre a junção dos conceitos Paisagem e Desenho Sonoro, tão bem explorados na obra de Gus Van Sant. |
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Bibliografia | CARRASCO, Ney - Sygkhronos. A Formação Poética Musical no Cinema. São Paulo:Via
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