ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Montagem, Canto e Música em Alberto Cavalcanti |
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Autor | Fernanda Aguiar Carneiro Martins |
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Resumo Expandido | Se o título “O Canto do Mar” é em si sugestivo, apto a evocar o tema da evasão, anunciando a atmosfera de sonho e de devaneio, que atravessa toda a história dessa realização, do cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti, ele põe em relevo e valoriza desde já a trilha sonora e musical do filme. Contando com uma partitura orquestral, do compositor César Guerra Peixe, presente desde a exibição dos créditos, a música possui um valor expressivo, sendo utilizada de modo a sempre tornar significativa a relação entre a imagem e o som, jamais natural nem redundante. A estrutura em leitmotiv da escrita musical clássica imprime ao filme um estilo pessoal, desenvolvendo-se em torno de motivos melódicos, que parecem nunca se resolver, privilegiando os registros agudos ou graves dos instrumentos de sopro e de percussão. Tais registros conferem emoção a certos momentos da ação, desde a introdução dos personagens, ao mesmo tempo em que criam uma espécie de “exaltação surda”, ligada à ambiência de miséria e de desgraça mas também de sonho e de exasperação.
De todo modo, a essa “música de orquestra” e não diegética acrescenta-se uma “música de fonte” e diegética, fazendo valer certo ecletismo, à medida que esta última abrange uma multiplicidade de composições, pertencentes à cultura regional popular. A presente comunicação se propõe a analisar o papel fundamental que o canto e a “música de fonte” e diegética exercem em "O Canto do Mar", tendo como ponto de partida o agenciamento de uma “geografia criativa”, que nos remete aos experimentos de Lev Kulechov, do início do século passado. Assim sendo, cabe examinar como a estética construtivista e o emprego de uma variedade de cantos e de música entram em jogo no filme, contribuindo para a criação de uma “imagem-ritmo”, a qual conjuga a expressão do gesto e do corpo, em passagens do ritual e da festa. Nesse âmbito, as cenas e seqüências do Frevo, do Xangô e do Maracatu merecem uma atenção especial. No decorrer do filme, observamos que elas aparecem em relação estreita com o clima de exaltação e de desespero, vivenciado pelos personagens. Além disso, elas nos fazem crer que, a exemplo de certos filmes do cineasta soviético S. M. Eisenstein, uma disseminação do princípio de montagem supõe o fenômeno da fragmentação e da soma, pressupondo a idéia de uma decomposição analítica dos planos, e conduzindo aos parâmetros constitutivos da imagem tanto físicos (iluminação, escala dos planos, etc.) quanto “emocionais”. Dito isso, se por um lado a música é onipresente no filme, possuindo um papel preponderante na trilha sonora, e intervindo de maneira eloqüente no desenrolar da ação, por outro, convém admitir que um investimento musical se encontra presente nas próprias imagens do filme. Quanto à colaboração de valor inestimável, do compositor de prestígio, o músico César Guerra Peixe, vale salientar, que a sua formação erudita jamais o impediu de se interessar pelos ritmos e expressões musicais, provenientes da cultura regional popular do Nordeste brasileiro. |
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Bibliografia | ALBÈRA, F. Eisenstein e o Construtivismo Russo, trad. Eloisa Araújo Ribeiro, São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
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