ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Trucagem ótica e composição digital: o papel da montagem na criação de |
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Autor | Elianne Ivo Barroso |
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Resumo Expandido | O objetivo do trabalho é verificar qual o papel da montagem audiovisual na utilização de efeitos visuais em filmes narrativos. A questão é saber se, no ideário clássico, muda seu status como elemento estético e de linguagem diante da técnica de trucagem empregada.
Para tanto, a idéia é analisar duas ficções produzidos em momentos distintos da produção de efeitos. Assim escolhemos comparar duas versões de “Casino Royale”. Ambas baseadas no livro homônimo escrito por Ian Fleming em 1953 que narra as aventuras de James Bond, personagem que vive entre espionagem, jogo de cartas e conquistas amorosas. A primeira versão foi dirigida por um coletivo de realizadores: Val Guest, Ken Hughes, John Huston, Joseph McGrath e Robert Parrish e estrelado por David Niven no papel de James Bond que se tornaria o agente 007. A obra foi realizada em um momento em que, para garantir espetacularidade, mas também verossimilhança à ação, as técnicas disponíveis se restringiam à produção da imagem com peças cênicas, efeitos mecânicos associados ou não a engenhos de truca (principalmente para recriação de fundo de imagem). A ilusão ótica proposta por estes tipos de efeitos é, pois, ancorada no paradigma fotográfico e evidenciada ou reforçada pela decupagem de imagens. Aqui predomina o compromisso com a diegese sempre a partir da invisibilidade do corte. A motivação de mudar de um plano para outro é da continuidade espaço-temporal necessária à montagem narrativa com bem descreve Amiel (2002). Já a segunda versão de Casino Royale, concebida por Martin Campbell (2006) pode trabalhar com o ferramental digital em que prevalece a idéia da composição da imagem na qual o ilusionismo não se limita à reprodução ou sobreposição de camadas da cena capturadas apenas por câmeras. A montagem, especialmente nos momentos de maior suspense e tensão, parece perder a sua função de artifício e manipulação, desempenhando apenas papel estrutural, organizando sequencialmente os planos. As seqüências de ação são, portanto, hibridizadas, compostas de diversas técnicas (fotografia, ilustração, animação etc) e criadas de forma maquínica com intervenção direta na disposição e movimentação das figuras e fundos. O plano se confunde com a seqüência e ganha maior densidade e temporalidade. Entretanto em razão da artificialidade e irrealismo deste olhar sobre o espaço, vale a pena dizer que este efeito visual distancia a sua imagem daquilo que Bazin conceitou como plano-seqüência. A composição digital - é certo - dispensa a montagem cinematográfica como artifício. Sem corte, ela ganha maior duração, porém perde a noção da pluralidade de pontos de vista criada pela edição audiovisual. Ela lembra muito mais a dinâmica dos videogames, na qual o jogador/espectador tem estranhamente um ponto de vista subjetivo e onipotente da ação. Através da análise comparativa, pensamos em demonstrar a importância do corte e da junção de planos como ato fundante de um cinema narrativo cujo paradigma é a representação fotográfica do mundo tal qual faz uso o filme dos anos 60. A produção contemporânea de James Bond, entretanto, se baseia no agenciamento digital que compõe imagens de procedências distintas enfatizando a composição do quadro em detrimento da montagem de fragmentos de imagens. |
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Bibliografia | AMIEL, V. Esthétique du montage. Paris: Nathan, 2002.
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