ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Desaparecimento e pertencimento em Os Famosos e Os Duendes da Morte |
|
Autor | Denilson Lopes Silva |
|
Resumo Expandido | Se podemos pensar ainda hoje em nostalgia não se trata tanto do processo descrito por Jameson no horizonte pós-moderno associado ao pastiche, ao ecletismo histórico, nem simplesmente uma nostalgia restauradora ou que reflete sobre o passado, para usar os termos de Svetlana Boym, mas um processo de fantasmagorização, rarefação, como uma figuração da desaparição. Seria ainda nostalgia? Ou seria um frágil sombra do passado que nem podemos chamar nomear? É com estas perguntas que irei ler Os Famosos e os Duendes da Morte (2010) de Esmir Filho a partir do local transformado por um processo de fantasmagorização marcado por fluxos midiáticos e que estabelece uma tensão no protagonista entre o afastamento da cidade em que vive e o pertencimento às imagens e afetos mediados pela internet.. Experiência que faz do fantasma mais do que um personagem dos filmes de terror uma metáfora, como nos lembra Erick Felinto, da subjetividade contemporânea.
“Estar perto não é físico” e á frase de efeito dita em um dos textos que o protagonista posta no seu blog. Perto é estar perto afetivamente, o que pode ser cada vez mais distante geograficamente, mesmo fisicamente? Ou o que ainda de local e físico insiste e persiste mesmo que confrontado com o distante? A partida final do protagonista que não um nome apenas um nick name. Mr. Tambourine Man, inspirado em conhecida música de Bob Dylan, implica talvez dizer que nem tudo a viagem virtual satisfaz embora muito ela possa vislumbrar. Pela internet, o protagonista já não era mais tanto de sua cidade. Ele foge do jogo de futebol na escola. Durante a festa junina prefere a companhia de Julian, personagem também excluído da cidade mas que retorna. Dessa forma, o uso de imagens desfocadas, embaçadas menos que cacoete estilístico se articulam com o potencial risco de desaparecimento dos personagens num mundo mediatizado e em fluxo, explicita uma sensação de não estar de todo, não pertencer, mas ao mesmo tempo de ter um outro lugar, um outro ritmo. O desfocamento da imagem é uma forma de tornar o protagonista um fantasma, perto da morte ou de uma outra vida. O quarto com o computador vira janela para o mundo e caverna que protege e possibilita um encontro, espaço de devaneio onde caem estrelas e Bob Dylan, outra estrela, pode ser quase tocado. Mas se o partir é estimulado pelo diretor ao tentar seduzir o protagonista pela presença de Dylan é o encontro final com Julian que marca esta passagem. A despedida com seu melhor amigo Diogo se faz rápida e sem grandes dramas, mas não sem afeto, quando Diogo se recusa a também viajar e parece se contentar em tentar transar com a irmã de Paulinho na festa junina. Já o encontro com Julian parece empurrar o protagonista para fora de lá, a atravessar a ponte que o leva a outro corpo, talvez também à homossexualidade. No mundo da internet, dos celulares, em que o local mais distante parece conectado; as emoções parecem ecoar curiosamente os anos 60, tanto antes da contracultura, como encenado por um outro gaúcho, Caio Fernando Abreu, em seu romance Limite Branco, também passado numa pequena cidade do Rio Grande do Sul e tendo como protagonista um adolescente sem nome, meio frágil e deslocado. Quando como se dizia nos EUA dos anos 50 do século passado , que não havia garotos gays só garotos tímidos. A ambigüidade não seria simplesmente uma experiência adolescente nem mesmo, para usar uma expressão ainda mais antiga, quando se sente o amor que não ousa dizer o seu nome, uma experiência falsa, medo da homossexualidade, do sexo, medo da vida? Como podemos pensar essa experiência na atualidade de sua anacronia? |
|
Bibliografia | APPADURAI, Arjun. Modernity at Large. Cultural Dimensions of Globalization. Minneapolis, University of Minnesotta Press, 1996.
|