ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Feminismo e exclusão social em documentários de mulheres no Brasil |
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Autor | maria celia orlato selem |
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Resumo Expandido | Esta comunicação é um recorte da minha tese de doutorado e pretende analisar três documentários recentes dirigidos por mulheres no Brasil. Tenho como pressuposto que a entrada das mulheres (sensíveis a questões especificamente femininas) na produção cinematográfica e a ampliação de espaços de divulgação desses trabalhos possibilitaram a emergência e publicização de filmes brasileiros perpassados por outras subjetividades e com potencial político de denúncia e/ou desestabilização da norma patriarcal.
Os documentários selecionados para esta análise são “O aborto dos outros”, de Carla Gallo (2008); “A falta que me faz”, de Marília Rocha (2009) e “Leite e ferro”, de Cláudia Priscila (2010), os quais realizam interfaces entre os feminismos e o problema da desigualdade social resultante de nossas heranças coloniais. Respaldo-me nos estudos feministas e pós-coloniais para realizar tal intuito, pois são teorias capazes de localizar a violência contra as mulheres como resultado da imposição de projetos políticos de nação, marcadamente patriarcais e capitalistas. Os filmes acima selecionados abordam temas caros aos feminismos no Brasil: o aborto, a violência, a maternidade no sistema carcerário, a feminilização da pobreza e a precarização do trabalho feminino. Assim, esses documentários comunicam-se em suas temáticas políticas ao mesmo tempo em que se inscrevem em uma vertente tradicional do cinema latino-americano, marcadamente focada nas questões sociais em uma perspectiva pós-colonial. Entretanto, há que se falar também do seu caráter poético, com a utilização de uma estética com menos pretensão de realidade pura, mas que não inviabiliza a política de resistência feminista. Como tem repetido as teorias pós-modernas, não é mais possível falar de realidade nem de feminismo sem perceber a multiplicidade de lugares e sujeitos constituídos historicamente e regionalmente, bem como sem identificar as múltiplas violências que perpassam esses processos de identificação e localização. Ao pesquisar filmes dirigidos por mulheres, partilho do entendimento de Rangil, de que, não se trata de ressaltar um cinema feito por mulheres como um gênero cinematográfico em si mesmo, pois não existe uma fórmula totalizadora da linguagem fílmica feminista, mas sim a construção de uma experiência feminina retratada em tempos, percepções, fatos, relações, silêncios. Nessa direção, faz parte das estratégias dos estudos feministas, dentre muitas outras coisas, visibilizar a produção cultural das mulheres, longamente silenciadas pelos discursos modernos e pelas dinâmicas sexistas ainda presentes na contemporaneidade. |
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Bibliografia | COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder. A inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte, UFMG, 2008
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