ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Sociologia da Cinefilia |
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Autor | Marina Soler Jorge |
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Resumo Expandido | Em 1969 Pierre Bourdieu e Alain Darbel publicam, em primeira edição, o livro "O amor pela arte - os museus de arte na Europa e seu público". O objetivo era empreender uma ampla pesquisa quantitativa e qualitativa em museus do continente europeu e a partir daí realizar inferências a respeito da relação do público com esta importante instituição de arte da cultura européia. Bourdieu e Darbel investigam, entre outras variáveis, a origem social do freqüentador de museu, sua idade, escolaridade, profissão, além de elaborarem questões que diziam respeito não à estratificação social do público mas às suas preferências no que se refere à arte. Os autores analisam, a partir das respostas obtidas, de que maneira os mecanismos sociais de transmissão cultural influenciam o gosto do público em relação aos museus e às obras. Estes mecanismos explicariam o fato de parte do público se sentir a vontade diante de artistas mais herméticos ou “de vanguarda”, enquanto outros reproduzem, em suas preferências, um conservadorismo de gosto que é devido, sobretudo, à falta de familiaridade com o objeto estético. O livro "O amor pela arte" é uma das referências para a investigação que estamos empreendendo. A pesquisa parte de entrevistas qualitativas e quantitativas para construir propostas de compreensão do “amor pela arte” mas, diferentemente da obra de Bourdieu e Darbel, pretendemos investigar como esse amor se manifesta em relação a um público bastante específico: os chamados cinéfilos.
Para realizarmos a pesquisa, cujos resultados iniciais pretendemos apresentar na Socine, definimos o ambiente da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo como um lugar adequado para estabelecermos o primeiro contato e as primeiras entrevistas como os cinéfilos que desejamos estudar. Ainda que o público da Mostra seja bastante heterogêneo, esperamos encontrar, nesse evento específico, mais aficionados em cinema do que em exibições comerciais. Isso ocorre, em primeiro lugar, pois se trata de um evento que privilegia o dito cinema de arte, que tende a comunicar-se com um público mais aberto a experiências cinematográficas. Em segundo lugar, pois comparecer à Mostra implica transtornos de deslocamento em São Paulo (a maioria das sessões ocorre durante a semana), disposição para enfrentar filas e preço elevado de ingressos que costumam desmotivar os espectadores menos fanáticos. E, finalmente, porque além dos filmes, os espectadores têm a oportunidade de ouvir, em sessões de debates, cineastas e demais artistas envolvidos com a produção das obras apresentadas - oportunidades que, a princípio, tendem a interessar, sobretudo, aos mais entusiastas do cinema. Partimos do pressuposto que o cinéfilo tenha uma relação de prazer com o cinema que não pode ser imediatamente classificada como satisfação alienante ou como satisfação proporcionada pelo consumo. O prazer do cinéfilo não pode ser reduzido àquele que, como descreve Theodor Adorno, relaciona-se antes ao lazer do que à arte, e que por isso teria uma função alienante ao tornar o trabalho na sociedade capitalista menos insuportável. Hans Robert Jauss considera que a atitude de prazer que a arte possibilita é o fundamento da experiência estética e que esta atitude pode ser vista como libertária nos seguintes sentidos: em primeiro lugar, o homem pode satisfazer, pela criação artística, a necessidade geral que ele tem de se sentir em casa no mundo e de sentir que o mundo é efetivamente sua casa; em segundo lugar, a obra de arte pode renovar a percepção das coisas que se encontra embrutecida pelo hábito e pelo conhecimento de tipo tradicional; em terceiro lugar, na percepção da obra de arte, o homem pode se desligar dos laços que o prendem aos interesses da vida prática e recuperar a liberdade do julgamento estético. |
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Bibliografia | ADORNO, Theodor, HORKHEIMER, Max, “A Indústria Cultural: o esclarecimento como mistificação das massas” in Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, 2ª edição.
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