ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O realismo nos filmes brasileiros contemporâneos sobre a Ditadura Militar |
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Autor | Cristiane Freitas Gutfreind |
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Resumo Expandido | A imagem cinematográfica é, por excelência, a analogia do real, pois o cinema é uma técnica de reprodução das aparências, estruturada nos princípios do realismo. Poucos foram os movimentos no cinema, sobretudo narrativo, que não se apropriaram do sentido de realismo difundido desde o século XIX: representar nas artes as realidades. A idéia nesse trabalho é compreender como o realismo se constitui em uma estratégia estética nos longas-metragens ficcionais contemporâneos sobre a Ditadura Militar no Brasil, ou seja, refletir sobre o produto que nasce da imbricação da técnica colocada em movimento pelo pensamento humano e suas escolhas estéticas. Segundo Jacques Rancière, o que existe é uma “confusão estética” expressa na reflexão de que os pensamentos, as práticas culturais e a sensibilidade estão instituídas e arraigadas dentro de seu território, permitindo-nos identificar objetos a formas de experiência e de pensamento de maneira singular. Além disso, para que o objeto seja chamado de arte, precisa ter uma história contada de forma “representativa”, levando-se em consideração os seus limites. Esse processo faz com que a estética dos filmes aqui analisados se sustente, hoje, na capacidade de relacionar formas autônomas com formas de vida, negociando sua relação com o entretenimento através do seu poder em contar histórias, sobretudo, confessionais, inspiradas na realidade e no fato histórico. A especificidade da ligação do espectador-filme não consiste, simplesmente, em o espectador ver um filme, mas em o filme também olhar para o espectador, advindo daí a atual importante presença nas telas de filmes cuja temática se inspiram em fatos históricos como da Ditadura Militar brasileira. Daí, a importância do realismo como forma de apreensão dessas imagens cinematográficas. Os teóricos dessa corrente, como Bazin e Kracauer, partem do pressuposto de que um mesmo acontecimento histórico é passível de diferentes representações, e cada uma dessas formas de representação abandona ou salva qualidades que faz com que o acontecimento seja reconhecido, na tela, e introduz, com objetivos didáticos ou estéticos, as abstrações mais ou menos corrosivas que subsistem do original. Nesse sentido, o diretor tem sempre que reconquistar a realidade, como afirma Kracauer, ao enfocar que o cinema realista é um "sintoma" da realidade vivida, servindo como "documento" para construção e atualização da história. O cinema é a realidade e não uma representação, pois ele se constitui em uma forma de pensamento em movimento onde pode haver criação e abstração. Porém, devido a sua própria essência o realismo apresenta limitações. As diferentes mídias e suas técnicas, cada vez mais entranhadas no cotidiano, possibilitam que o acontecimento histórico torne-se um simulacro; o efeito de real esmagado pela exposição indiscriminada de imagens visuais de grandes catástrofes, substituindo, o impacto pela indiferença, contribuindo para a sua banalização e para a inconsistência de um rigor histórico. Tal proposição é marcada pelo uso de estratégias estéticas que se apropriam de uma determinada técnica que deve ser repetida indefinidamente para permitir ao espectador assimilá-las, rapidamente, criando, assim, um código de comunicação apreendido por todos. É dessa maneira, que, segundo Lyotard, “se multiplicam os efeitos da realidade ou os fantasmas do realismo”. Este é o realismo didático e desprendido de abstrações. Em oposição, podemos constatar que o realismo como estratégia estética valorativa se distancia da representação da realidade e se aproxima da sugestão, do tensionamento de regras técnicas e da criação de um pensamento sobre o real. Essas são, então, as estratégias que analisamos nos filmes brasileiros sobre a Ditadura Militar.
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Bibliografia | ADORNO, Theodor W. Teoria Estética. Lisboa: Edições 70, 1970.
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