ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A teoria do ator-autor |
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Autor | Pedro Maciel Guimaraes Junior |
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Resumo Expandido | O termo “ator-autor” foi usado pela primeira vez nos escritos do crítico e teórico americano Patrick McGilligan, em 1975, no ensaio sobre o ator norte-americano James Cagney. McGilligan utiliza a expressão “the actor as auteur”, propondo um modelo de análise poético-estética da interpretação do ator e da encarnação de um personagem ficcional onde as influências mútuas entre ator e diretor são o centro do processo de criação e da recepção do filme. “Existem certos atores cujas possibilidades de atuação e as personas cinematográficas são tão marcantes que elas dão corpo e definem a essência do próprio filme”, escreve McGilligan.
Não é por acaso que McGilligan usa o termo auteur em francês, pois ele remete diretamente ao conceito de “autor” criado pelos críticos da revista Cahiers du Cinéma à partir dos anos 50. Como para os diretores, trata-se de investigar na obra de cada ator manifestações de uma aparência de mundo pessoal e uma evolução do estilo de interpretação. Resta a definir o que seria para o ator a sua “obra”, o equivalente do termo usado para descrever a obra de um diretor. Para Vincent Amiel, integrante do GRAC, já que o ator cria com seu próprio corpo, modela-se a si mesmo, seu corpo é tanto um “corpo-criador quanto um corpo-sujeito, expressão e manifestação”. Em outras palavras, o corpo do ator é não só seu instrumento de trabalho mas o resultado desse trabalho, sua obra. No caso do ator, seria necessário estender a noção de obra para outros momentos de criação que extrapolem a personificação de um personagem. Poder-se-ia falar também da carreira de um ator como sua obra, suas escolhas de papéis e suas relações de proximidade e cumplicidade com certos diretores-autores acabam se tornando determinante para a definição de sua persona cinematográfica. Alain Bergala vê no ator um “corpo condutor de desejo fraternal” ao evocar a capacidade que o ator tem de ser um elo de ligação entre o universo de dois ou mais cineastas. Bergala cita o exemplo de Akim Tamiroff para Jean-Luc Godard, mas talvez o mais evidente no cinema europeu seja mesmo o de Jean-Pierre Léaud, “uma star, a única criada pela Nouvelle Vague, o único corpo que passou (de Truffaut a Godard, de Eustache a Skolimowski) da infância infeliz à adolescência cinéfila”, segundo Serge Daney. Mais recentemente, a teoria do ator-autor ganhou reforços teóricos com o livro Politique des acteurs, do crítico, cineasta, teórico e ator francês Luc Moullet. O autor destrincha o système de jeu (a interpretação no sentido amplo do termo) de quatro atores norte-americanos, tentando encontrar neles esses “instantes de criação legítimos”, mais ou menos conscientes, capazes de influenciar o filme como um todo. O livro é uma observação histórica e estética da aparição do ator e da composição dos personagens de Cary Grant, John Wayne, Gary Cooper e James Stewart. Tendo o objeto de estudo delimitado, a aplicação do conceito de ator-autor se fez de maneira gradual e, por vezes, cronológica, aos filmes onde esses atores tiveram papéis principais ou mesmo secundários. Moullet cria, sem dúvida, um modelo de análise do trabalho “atoral”, onde o ator é autor não somente da gestualidade que compõe o personagem, as “figuras ou orientações essenciais” da interpretação que o ator vai desenvolver e subverter ao longo da sua carreira. O ensaio de Moullet aborda também como a “persona cinematográfica” do ator, formada pelo estudo de um texto extra-fílmico (os engajamentos pessoais de cada um, suas vidas privadas) vai influenciar os diretores na composição plástica e de conteúdo do filme. |
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Bibliografia | AMIEL Vincent, NACACHE Jacqueline, SELLIER Geneviève, VIVIANI Christian (org.), L’acteur de cinéma : approches plurielles, Rennes, PUR, 2007.
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