ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Figuras na paisagem |
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Autor | André de Souza Parente |
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Resumo Expandido | Figuras na paisagem é uma instalação em que o espectador utiliza um dispositivo imersivo que simula um binóculo, chamado Visorama, por meio do qual ele interage com ambientes virtuais fotorrealistas, contendo micro-narrativas, vídeos e sons. Existem dois ambientes ou universos principais, cada um deles contendo uma narração que descreve a presença de um leitor, que se desloca entre o Real Gabinete Português de Leitura, uma biblioteca circular que nos faz pensar em Jorge Luis Borges, e a Praia, ambiente tipicamente carioca. Há ainda um terceiro ambiente, a própria sala do Oi Futuro onde ocorre a exposição, que serve como o ponto inicial de navegação e acesso às diferentes paisagens. É exatamente esta passagem – do campo de visão retangular para o cilíndrico – que causa o maior choque nos espectadores do Visorama. Muitos se perguntam se os ambientes virtuais não surgem em tempo real – por conta do movimento alterar o que é visto, a analogia mais próxima encontrada é a de uma câmera de vigilância. Se o observador escolhe entrar na biblioteca, por exemplo, ele terá três narrativas. Na primeira, ele verá uma biblioteca vazia, enquanto a narração conta a surpresa vivida por Santo Agostinho quando ele viu seu mestre, Santo Ambrósio, lendo silenciosamente. Para Santo Agostinho, a leitura silenciosa era uma grande novidade que traria enormes conseqüências. A segunda narrativa é a do “leitor que salta”, personagem inventado por Macedônio Fernandes para falar da leitura não linear e intertextual. A terceira, enfim, é formada por trechos do Livro do Desassossego, onde o guarda-livros Bernardo Soares, fala da leitura como uma viagem. Cabe lembrar que o narrador e o leitor que aparece na biblioteca, as vezes sozinho, as vezes com outros leitores e mesmo poetas atuais (António Cícero e Fernando Rodrigues), é o artista ele mesmo. Na praia, temos três narrativas. Na primeira, vemos, da pedra do Arpoador, a praia de Ipanema. O ponto de vista do observador/visitante se confunde com o do leitor/artista, que vê e ouve os diálogos surreais dos banhistas. Na segunda narrativa, o artista se encontra ao mesmo tempo lendo um livro e observando as ondas. Trata-se de uma situação inspirada no conto Leitura de uma Onda de Ítalo Calvino, onde o Sr. Palomar tenta isolar uma onda para melhor observá-la. A terceira e última narrativa é inspirada na crônica de Rubem Braga, Homem ao Mar, onde o artista/leitor, observa um homem nadando e se esforça para que ele atinja seu destino. A observação e o esforço que o observador faz no sentido de torcer para que o nadador chegue ao seu destino nos dá a nítida impressão que o olhar do observador é em grande parte responsável pelo que ele vê. Todas as narrativas são de alguma forma uma metáfora da própria situação do observador/visitante. A obra se dá como um espaço mental, tal como a biblioteca, espaço a ser explorado pelo observador de forma não linear, saltando de um ponto a outro da imagem, de uma narrativa a uma outra, de um universo a um outro. Mas ao fazê-lo, ele é de alguma forma responsável pelo que constrói, pelo que vê e sente. Nesse sentido Figuras na Paisagem se apresenta como uma verdadeiro “drive-in”, literalmente, onde o observador é o condutor da experiência singular que contrói não apenas para si, mas para os outros visitantes que se encontram na sala. Nessa série de trabalhos intitulados Figuras na paisagem, buscamos criar, por meio de mini-narrativas interativas, uma poética da paisagem que proporciona uma complexificação na relação entre a imagem e o espectador, permitindo que ele as explore de forma a encontrar um lugar para si diante do que vê, ouve e sente. As instalações panorâmicas em geral, e o Visorama em particular, possuem virtualidades ainda inexploradas, que fazem convergir o cinema, a arte e as novas mídias, transformando radicalmente as dimensões tradicionais do cinema: sua arquitetura (a sala), sua tecnologia (câmera e projetor) e sua narratividade ou linguagem. |
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Bibliografia | Artigos, capítulos, livros selecionados Parente, A. and Velho, L. (2000), ‘The Visorama’, in IV Congresso Ibero Americano de Gráfica Digital, SIGRADI, UFRJ, Rio de Janeiro, September. Pinheiro, S. and Velho, L. (2002), ‘A virtual memory system for real-time visualization of multi-resolution 2D objects’, in Journal of WSCG, 2002. Parente, A. and Velho, L. (2004), ‘A Panoramic View of Visorama’, in Proceedings of Cibercultura, Itaú Cultural, São Paulo, Brazil. Parente, A. and Velho, L. (2005), ‘Visorama’, in Festival @rt Outsiders, Paris: HYX. Parente, A. and Velho, L. (2009) A cybernetic observatory based on panoramic vision. Technoetic Arts, v. 6, Parente, A. ; Carvalho, Victa (2009) Cinema as dispositif: Between Cinema and Contemporary Art. Revue Cinémas, v. 19. Parente, A. Cinema em trânsito. Cinema, arte contemporânea e novas mídias. Rio de Janeiro: Azougue, 2011. Carvalho, Victa. Figuras en el paisaje. In Infinito Paisaje. Catálogo, Buenos Aires, 2011 |