ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A Retórica do Medo: efeito de real e credibilidade fílmica no horror |
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Autor | Klaus Berg Nippes Bragança |
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Resumo Expandido | Muitos filmes usam modos críveis para moldar o mundo ficcional à realidade, como um recurso para amenizar o artifício fílmico. Mesmo que de maneira geral todas as ficções sejam parasitárias de aspectos do mundo real, existem obras que fazem suas imitações sistematicamente verossímeis para poderem afetar o receptor a partir do julgamento analógico das regras da realidade. Nesse quesito se inserem tanto os produtos documentais, como também os filmes de horror, exemplificados nesse estudo por [REC] (2007) de Jaume Balagueró e Paco Plaza, e Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2009) de Oren Peli: ainda que ofereçam representações inverossímeis para provocar um estranhamento do mundo narrativo, o mecanismo fílmico produz uma impressão de realidade e conduz as estratégias afetivas de horror apoiando-se na crença espectatorial. A investigação reside neste problema: se sabemos que as narrativas são ficcionais, como poderiam coagir o receptor a compactuar com relatos que ultrapassam a fronteira do possível e deságuam no leito do absurdo para assim receber os estímulos de horror?
Nos dois filmes a construção mimética dos mundos ficcionais é edificada por aspectos do ordinário, referenciam-se nas premissas perceptivas da realidade do receptor. Embora tal recurso possa vincular as narrativas ao pano de fundo da verdade, é caro ao gênero de horror burlar as fronteiras do possível para suscitar eficazmente seus pressupostos afetivos, e para tanto as narrativas recebem uma dose do extraordinário, conformando-se ao universo do gênero, pois “a consciência da identidade genérica de um filme permite a seu espectador reconhecer ‘uma fórmula de comunicação estabelecida’ ‘de organizar seu sistema de expectativa’” (MOINE, 2002, p.11). Porém essa adequação não compromete a credibilidade fílmica, visto que em ambos os casos o sistema de leitura organiza pretextos para que a argumentação demonstrativa possa diluir gradualmente as hipérboles extraordinárias que artificializam o relato dentro do imaginário do receptor. Nesse caso, “mais do que o quebra-cabeça formar ou não uma imagem completa uma vez acabado, a arte da narrativa consiste em apresentar as peças em certa ordem e certo ritmo: é a distribuição do saber” (JULLIER; MARIE, 2009, p.62). Os modos de condução estética corroboram justificativas verossímeis para os absurdos ficcionais não se desviarem forçosamente dos valores análogos que o receptor traz e, dessa maneira, incrementam a experiência fílmica promovendo o pacto ficcional que singulariza as narrativas. Em [REC], bem como em Atividade Paranormal, a composição fílmica ancora-se em critérios de honestidade testemunhal transubstanciados em formatos “da verdade”, como o tele-jornalismo e o auto-relato, respectivamente. Tais formatos “tem a particularidade de poder produzir o que os críticos literários chamam o efeito de real, ela pode fazer ver e fazer crer no que faz ver” (BOURDIEU, 1997, p.28) e facilitar a imersão no imaginário por meio de uma ilusão psicológica que fomenta não só a crença, mas principalmente a dúvida que questiona o senso comum do receptor. Para dar conta do problema exposto emprega-se como método a análise textual do filme. A interpretação do texto fílmico pressupõe uma estrutura interna, redes de significados que se combinam e se completam para a produção de sentido, ou seja, “falar de ‘texto fílmico’ é, portanto, considerar o filme como discurso significante, analisar seu(s) sistema(s) interno(s), estudar todas as configurações significantes que é possível nele observar” (AUMONT et al, 2002, p.200). Entretanto, como se tratam de filmes com teor narrativo, optou-se por empregar também algumas categorias narratológicas consideradas por Eco (1979), e Gaudreault e Jost (1995) que possam clarificar certos procedimentos retóricos usados para compor as tramas de horror. |
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Bibliografia | ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e Persuasão: ensaios sobre o barroco. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
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