ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Biutiful e os regimes de (in)visibilidade das migrações transnacionais |
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Autor | Maurício de Medeiros Caleiro |
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Resumo Expandido | A saga pessoal do protagonista de Biutiful, Uxbal (Javier Bardem), é mote para uma dupla representação: da redenção de um marginal à beira da morte e da aridez da vida de marginalizados de diversas origens e etnias nos arrabaldes nada glamorosos da turística Barcelona. Decorrência de um dos principais efeitos do capitalismo tecnofinanceiro global - os fluxos migratórios transnacionais, intensificados nas últimas décadas –, tais exilados têm remodelado a face de algumas das principais cidades da Europa, muitas delas transformadas em cenários urbanos multiétnicos onde referenciais advindos de diferentes culturas, origens e classes sociais se mesclam, abalando o conceito convencional de identidade nacional e gerando reações xenofóbicas no âmbito da política e, eventualmente, da violência urbana.
Arte industrial, o cinema tem sido capaz de abordar o tema com a atualidade, a freqüência e a pujança devidas? A princípio, e a despeito de honrosas exceções advindas do trabalho de, entre outros, Agnès Varda, Michael Haneke, Stephen Frears, Michael Winterbottom, Lauren Cantet - e de produções avulsas de realizadores menos famosos direta ou indiretamente ligados a tal fenômeno -, a hipótese que adotamos é que não: essa realidade urbano-humana já não tão nova permanece, em larga medida, submetida a regimes de invisibilidade e semi-invisibilidade no cinema, e a Europa mostrada nas telas nas últimas duas décadas continua sendo, no mais das vezes, caudatária de identidades e imaginários nacionais algo tradicionais, muito menos miscigenados e multiculturais do que os da vida real. Que um impulso, consciente ou não, de preservação de padrões estéticos e de uma auto-imagem formada por uma relativamente pouco variada paleta de biótipos físicos se imiscua no convencionalismo de tais representações é algo que se nos apresenta quase que naturalmente como uma hipótese secundária. Algo bem diverso – dir-se-ia o oposto - ocorre, no entanto, no filme-tema deste trabalho - uma co-produção entre Espanha e México dirigida pelo Alejandro Gonzalez Iñárritu de Amores Perros (2000) e de Babel (2006), que também enfoca etnicidade e multiculturalismo, porém em uma mirada sincrônica global. Em Biutiful (2010), a Europa multiétnica e seus fluxos migratórios deixam de ocupar meramente o entorno narrativo e/ou servir de pano de fundo a tramas diversas e, em alta voltagem dramática, se embrenham com a trajetória do protagonista e com ele disputam a atenção como temática central do longa metragem. Além do protagonismo, em Biutiful, da relação entre fluxos migratórios, urbanidade multiétnica e trabalho, e da fidelidade aos aspectos histórico e sociais do tema, há de destacar o rigor formal cinematográfico que Iñárritu dispensou ao tratamento de cada um desses pólos de imigrantes representados no filme, à peculiaridade marginal de sua inserção no espaço urbano e à confluência dramática de seus dramas em uma questão humana maior, notadamente os momentos finais da narrativa. O objetivo da comunicação em tela é justamente fornecer uma introdução crítico-comparativa às representações dessa nova conformação urbana multiétnica no cinema da Europa Ocidental, privilegiando, como baliza comparativa, a abordagem que Biutiful perfaz do retrato de chineses e senegaleses na Catalunha, examinado a partir de um enfoque que prioriza a análise do papel que recursos propriamente cinematográficos – destacadamente, direção de fotografia, som e direção de arte – desempenham para tal. |
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Bibliografia | FLESLER, Daniela. New racism, intercultural romance, and the immigration question in contemporary Spanish cinema. Studies in Hispanic Cinemas, v. 1, n. 2 Set. 2004.
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