ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Poéticas da responsabilidade no cinema latino-americano |
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Autor | Sebastião Guilherme Albano |
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Resumo Expandido | À semelhança do sistema de substituição de importações, as políticas para o setor e mesmo a imaginação projetada pelo cinema da América Latina mantêm uma visão reflexiva em relação às cinematografias dos países considerados centrais, no que tange às ações afirmativas, de quotas de exibição etc., e às séries iconográficas selecionadas para o modelo de mundo apresentado. As quase inevitáveis conjunturas de dependência no que concernia à distribuição e à exibição, tópicos ordinários no debate acerca dos problemas das filmografias da região até bem pouco tempo atrás, foram suplantadas por um dado que consideramos mais discreto no sistema fílmico. Apresenta-se agora a reprodução sintagmática, quase um comentário ou uma reação, de paradigmas estéticos/narrativos não reportados diretamente com o habitus local, nem com sua cultura plástica, nem literária e nem mesmo de sua melhor tradição cinematográfica. Esse dado é oriundo de um processo de reação ou simplesmente de filiação revestido de empoderamento de matrizes e padrões iconográficos e de estruturas de planos e agora de estruturas de imagem negociados mormente nos estúdios de Hollywood, o que podemos resumir com a noção de visualidade cinematográfica hegemônica. Certamente não se pretende reivindicar uma possível norma vernácula de visualidade ou até de visibilidade, o que poderia levar-nos à reiteração da ideia de relativismo cultural ou algo que o valha, mas se tem consciência de um molde institucional historicamente predominante que delimita aspectos da sensibilidade cotidiana e da sensibilidade figurada, como a do cinema.
Não obstante, a situação certamente ocorre devido ao influxo de uma vertente da história mundial que no século passado pareceu consagrar um formato de sociedade projetado pela modernidade e que nos últimos vinte anos teve o Consenso de Washington, para a América Latina, como um dos marcos preceptores das ações do estado nacional liberal, a regra de organização política entre nós e em boa parte do mundo. A consagração da democracia representativa na maior parte da região não parece haver sido um lance de autodeterminação, mas a cristalização de uma série de proposições que foram conformando um único cenário possível para a dramatização do nosso destino. No caso das cinematografias nacionais, se o termo ainda for pertinente, em todos os seus planos de manifestação as argumentações pareceram favorecer seu alinhamento a certos regimes de produção, distribuição e exibição afeitos às condicionantes relativas principalmente ao alcance de público, com seus modelos de expectação calcados já no gosto infantilizado, e ao postulado do lucro tout court. Uma tal circunstância derivou em algo próximo ao processo que Max Weber denominou de ética da responsabilidade em contraposição à ética da convicção, e que adaptamos quase sem reparos para poética da responsabilidade, tamanha a intensidade da ponderação mercadológica que os agentes envolvidos no processo de concepção de um filme adotam na atualidade. |
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Bibliografia | FOLICOV, Tamara L. “Argentina’s Blockbuster Movies and the Politics of Culture under the Neoliberalism, 1989-1998”. In: Media, Culture and Society, 22-23, 2004, p. 327-342.
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