ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Música e documentários: o meio do caminho |
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Autor | Guilherme Maia de Jesus |
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Resumo Expandido | Em comunicação realizada no Encontro 2010 da Socine, foi apresentada a súmula de um projeto de pesquisa que parte da constatação de que nos estudos sobre documentários a imagem, o conteúdo das falas e os modos de representação – em suas tensões, distensões, fissuras e rupturas em relação ao mundo experimentado - costumam deixar pouco espaço para reflexões acerca do papel do som e, mais especificamente, da música; e que, de modo análogo, são raros os estudos sobre as trilhas sonoras nos quais à música dos documentários é conferido o status de um problema de pesquisa. O objetivo geral do projeto é contribuir para estabelecer um trânsito entre estes dois campos de estudo e a entender dinâmicas específicas da música quando convocada como ferramenta de expressão audiovisual documental, utilizando como corpus de partida o documentário brasileiro contemporâneo. Nesta apresentação, falaremos sobre possíveis respostas para algumas questões centrais da investigação, que emergem do caminho até agora percorrido.
Na dimensão empírica, foi realizado um fichamento preliminar de cerca de cinquenta obras, registrando de modo rigoroso, cue a cue, todas as vezes em que a participação da música é solicitada. A julgar pelos filmes fichados, a música é convocada em todas as obras e opera, basicamente, em quatro dimensões: a) Na estruturação formal e narrativa do discurso: overtures e end titles, pontuações, respirações e articulações no fluxo do discurso audiovisual, transições, estabelecimento de pontos culminantes, demarcação do filme em “capítulos”, produção de “alívio lírico"; b) Convocando o “belo” musical para produzir sintagmas audiovisuais que têm como finalidade encantar pela beleza das suas formas, simplesmente; c) Na dimensão do programa sentimental do filme, contribuindo para o estabelecimento de trânsito afetivo entre o espectador, as pessoas que as imagens mostram e o próprio filme; e d) Como ferramenta de composição da “paisagem musical” do universo mostrado na tela. O exame do corpus teórico, que abrange leituras sobre o documentário, sobre o documentário brasileiro e sobre a música no cinema, já percorreu alguns passos no contexto dos estudos brasileiros (Bernadet, Labaki, Teixeira, Lins, Mesquita) e de autores estrangeiros como Nichols, Comolli e Renov. Nesta apresentação falaremos mais especificamente de alguns autores, como Cooke, Lack, Cameron e Cavalcanti, que, em seus livros, dedicam ao menos um capítulo inteiro ao nosso problema de pesquisa. As enunciações sobre a música, expostas no corpo textual investigado vibram em consonância perfeita com o paradigma construído pelas teorias gerais do cinema, concentrando energia na interdição a um modelo, mas não se empenhando suficientemente na apresentação de argumentos e bons exemplos que comprovem suas teses sobre como deve ser a “boa música”. Ademais, não fazem girar os motores da questão central desta pesquisa, pois o que se diz da música dos documentários é, via de regra, o mesmo que dizem os discursos teóricos sobre o filme de ficção. No confronto entre o empírico e o teórico, surge uma questão instigante. Como sabemos, uma das contribuições importantes da teoria cinematográfica mais recente – os cognitivistas Greg Smith e David Bordwell são bons exemplos - é, indo de encontro ao caráter anti-Romântico que se instaura no pensamento e na prática artística a partir dos Modernismos, passar a aceitar a evidência de que filmes são “máquinas” expressivas que, entre muitas outras coisas, fazem emergir sentimentos. Documentários também fazem isso, mas, de uma maneira geral, os estudos sobre os documentários parecem construir ume espécie de “espiral de silêncio” (Noelle-Neumann) em torno da questão e não costumam trazer essa dimensão da obra para o discurso crítico-analítico. Uma aposta dessa pesquisa, que brota do caminho até agora percorrido, é a de que uma observação atenta à música pode contribuir com novos olhares (e ouvires!) sobre o filme documental. |
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Bibliografia | CAMERON, Ken. Sound and the documentary film. London: Sir Isaac Pitman & Sons, 1947.
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