ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Intelectuais católicos e o debate sobre a cotação moral no cinema |
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Autor | Geovano Moreira Chaves |
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Resumo Expandido | O controle da evasão: Intelectuais católicos e o debate sobre a cotação moral no cinema
Para que possamos compreender melhor os motivos pelos quais alguns intelectuais católicos defenderam a censura de alguns filmes, entendemos que se faz necessário elucidar alguns pontos importantes do pensamento católico sobre o cinema e sua relação com a sociedade de meados do século passado, pois foi justamente nesta época que, oficialmente, a Igreja Católica se posicionou politicamente acerca do cinema via encíclicas papais, fato este que gerou tensão e atrito junto aos expectadores e demais críticos em geral. Para tanto, abordaremos alguns autores que refletiram sobre esta problemática, tal qual René Ludmann, importante intelectual católico que dedicou muito de sua atenção à reflexão sobre a política e estética voltadas ao cinema e as suas influências no comportamento social, visando um específico padrão de moralidade. Segundo o intelectual católico, “o cinema prejudica o equilíbrio psicológico das massas ao excitar, duma maneira sistemática, a necessidade da evasão, mergulhando as massas num mundo irreal, desviando-as da moral da Igreja”. No Brasil, as opiniões dos intelectuais católicos sobre os usos do cinema tiveram bastante repercussão, e sendo assim, as iniciativas diretamente voltadas a enfrentar especificamente a questão cinematográfica por parte da Igreja Católica, segundo Inimá Simões, partiram da Ação Católica, uma vez que se deu a partir desta organização a elaboração de um boletim com tiragem semanal preparado por jornalistas católicos, com o interesse de orientação do público por meio de breves apreciações. As cotações morais são apontadas pelo Padre Guido Logger, intelectual cristão que muito refletiu sobre o cinema, como uma prática censora por parte da Igreja, e o autor alega que esta cotação é algo maior que uma simples censura supletiva. Ele alega que o cristão tem uma consciência mais delicada e quer viver um ideal de vida superior, daí tais cotações deveriam partir da Igreja. Estas cotações são maneiras de expansão, “pois o cristão não pode admitir certos filmes e nem pagá-los com seu dinheiro, porque afinal eles estão em oposição as suas convicções”. A classificação moral dos filmes não pretende ser, na opinião do pensador, uma barreira, mas um serviço. Nesse sentido notamos que a Igreja e seus respectivos intelectuais tinham como objetivo difundir a moralidade cristã ao mesmo passo que cercear as películas e atividades cinematográficas que apresentavam visões que não correspondiam a este padrão de moralidade. Neste caso, deixar de ir à missa dominical para comparecer às sessões de um cineclube ou de uma sala de exibição comercial poderiam representar formas de doutrinação ou mesmo orientação não compatíveis com as exigências de conduta propostas pela Igreja. Em território nacional, além dos livros, artigos e textos em geral publicados pela inteligentsia católica, as ideias de censura com base em cotações morais tiveram como orientações as encíclicas papais e os boletins da UPC (União dos Propagandistas Católicos), que falavam da classificação moral e publicavam regularmente listas de filmes que não deveriam ser assistidos, além de conclamar ao Estado a censurar tais películas. Desta forma, acreditamos que, por meio da análise das propostas de cotações morais para o cinema realizadas oficialmente, via encíclicas papais, e também pelos argumentos da inteligentsia católica de meados do século passado, muito se pode compreender sobre as relações entre estética e política no meio cinematográfico brasileiro, o que nos leva a refletir sobre tal prática também nos dias atuais, não menos recheada de polêmicas entre posicionamentos das Igrejas sobre vários filmes, o que demonstra que a questão persiste e o debate ainda está em voga. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Cláudio Aguiar. Meios de comunicação católicos na construção de uma ordem autoritária: 1907/1937. São Paulo: USP, 2002.
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