ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | As estratégias visuais do 1o. cinema e sua renovação no cinema digital |
|
Autor | India Mara Martins |
|
Resumo Expandido | O primeiro cinema, entre 1895 e 1908, apresenta algumas características técnicas que são determinantes para a sua composição visual. Tendo como referência o palco do teatro e os espetáculos de "vaudeville", a posição da câmera é frontal e horizontal com permanência em um ponto fixo, o que resulta no registro de uma imagem achatada, bidimensional. A iluminação é uniforme sobre todos os componentes profílmicos que aparecem dentro do campo visual da câmera. A utilização bastante frequente dos telões pintados nos fundos de cenário, muitas vezes reproduzindo, como no teatro da época, o "trompe l’ oeil", e os atores localizados longe da câmera, enquadrados no estilo dos quadros vivos ("tableaux vivant") completam o quadro. A este quadro muitas vezes serão adicionadas as cores, que dependendo da técnica (geralmente viragem) enfatizam ainda mais o espetáculo visual, sem necessariamente contribuir para o sentido da narrativa. É um cinema dominado por uma forte tendência ao espetáculo e uma fraca tendência narrativa, pois ainda desconhece a montagem e utiliza “truques” para organizar as seqüências. Os truques mais utilizados (montagem dentro do quadro) são a técnica de substituição por parada de ação, desenvolvida por Méliès e utilizada em "The enchanted drawing", que foi a precursora da técnica de filmagem quadro a quadro desenvolvida por Blackton para "Humorous phases of funny faces". Outra técnica muito utilizada é a sobreposição – geralmente de planos sobre um mesmo quadro. Além destas, também encontramos em profusão: fusões, desenho sobre a película; uso de máscaras e sobreimpressões. De acordo com o quadro trucográfico de Jacques Malthête, Meliès criou nove tipos de paradas de câmera e 36 tipos de sobreimpressões. Considerando estas características, Tom Gunning desenvolveu o conceito de Atração - que define aquilo que estimula a curiosidade visual, desperta ou cria excitação, espanto ou assombro. É algo em si inusitado, fascinante ou poderoso, e que atrai a atenção da audiência. As pessoas olham para algo porque é uma atração em si mesmo, não por causa da informação oferecida sobre um mundo de ficção ou pela informação educacional (GUNNING, 1994 ). Esta rápida revisão sobre os aspectos técnicos que caracterizavam o primeiro cinema e alguns conceitos utilizados para pensar as estratégias visuais utilizadas no período foi necessária para contextualizar nossa abordagem do cinema digital. Esta abordagem não é original do ponto de vista da técnica. Lev Manovich já faz tal relação quando diz que o cinema começa utilizando processos semelhantes à animação (sequência de fotos sucessivas - Marey) e se desvincula deste modelo, quando alcança o efeito do movimento baseado na síntese de imagens discretas (modelo atribuído a Lumière). Com a tecnologia digital o cinema vai retomar as técnicas de animação, para com ela alcançar uma imagem de síntese, só que agora realizada computacionalmente. Mas o que nos interessa e diferencia esta análise é relacionar especificamente as estratégias visuais, associadas ao campo do production design ou direção de arte, que envolve a cenografia, a paleta de cores e os efeitos visuais. Só para exemplificar, observamos que o uso de composite (fotos de locações manipuladas no computador), que são inseridas na pós-produção como ocorre em Capitão Sky e o Mundo de Amanhã (2004), têm em sua artificialidade alguma relação com os painéis utilizados em alguns filmes do primeiro cinema como Ali Babá e os 40 ladrões (1905) e Aladin e a lâmpada mágica (1906), da Pathé Films. Em se tratando da cor, estes dois filmes utilizam a técnica da viragem, que vai resultar numa atmosfera hiperrealista, muito parecida com o que ocorre em alguns filmes como 300 (2007), Sin City (2005) - estes inspirados em quadrinhos, o que justificaria tal artificialismo. Contudo, esta intensificação das cores também ocorre em filmes de cineastas como Wong-Kar-Wai, especialmente em nos filmes Cinzas do Passado (1994) e My Blueberry Nights (2008) |
|
Bibliografia | AUMONT, J. A Imagem. 2a ed. São Paulo: Papirus, 1995.
|