ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Cinema e Migração: das negociações por visibilidade e pertencimento |
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Autor | Sofia Zanforlin |
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Resumo Expandido | Esta comunicação tem suas lentes voltadas para o tema da migração. Gostaríamos de discutir três filmes exibidos na mostra ‘Limites e Fronteiras’ durante o Festival do Rio de 2010. Nesse caminho, três também são os fatores que nos chamam atenção: primeiro, sublinhamos que a criação de uma mostra voltada para relações entre imigrantes e governos, justifica a aproximação das realidades estrangeiras e da urgência que o tema adquire. Assim, nos aproximamos do segundo fator: a percepção de um cinema que nos arriscamos chamar de ‘social’, um cinema que dialoga com a realidade política, econômica, cultural e burocrática, de pessoas que se colocam em movimento, pelo movimento, pela mudança. Se são vítimas ou não, são certamente ativas e autoras dos rumos que percorrem nas suas vidas. O terceiro fator que queremos analisar é o que cada um dos filmes traz em suas narrativas, todas gravitadas em torno das especificidades políticas e das conseqüências burocráticas sobre a concessão de vistos, permissões, refúgio. Dessa forma, propomos a discussão dos filmes Jovens Ilegais(2009), de Nina Kusturica, Ilegal (2010), de Olivier Masset-Depasse, e de Os que chegam (2009), de Claudine Bories e Patrice Chagnard.
Inicialmente, gostaríamos de salientar que as diferenças de linguagem entre os filmes é propositadamente negligenciada, e transitamos da ficção ao documentário, focados apenas no que os três filmes selecionados se aproximam em suas narrativas. Cinema é, neste paper, tomado na sua imersão social, como sintoma, como discurso que circula mundialmente contando histórias, disseminando modos de vida. E é o cinema que também imprime no imaginário social o desejo por uma outra vida, em outro lugar, que proporcione crescimento e prosperidade, através das imagens estetizadas e plenas de fantasia. O desejo de mudar para outro país não está desconectado de uma subjetividade social alimentada pela comunicação massiva e globalizada, em que o cinema figura como um dos mais relevantes produtos culturais. Podemos lembrar de Appadurai (2004), que estabelece a migração e as comunicações de massa como os dois principais diacríticos da contemporaneidade. Os dois interseccionados, onde um serve de combustível para o outro, construindo o cenário onde a mudança caminha junto dos fluxos de informações e imagens de lugares outrora distantes, porém aproximados por um misto entre meios de transporte e trocas de informação. Em Jovens Ilegais, Nina Kusturica se aproxima de migrantes originários da África e do centro-leste asiático, onde se destacam os afegãos, e das perigosas rotas percorridas na tentativa de alcançar algum país europeu que lhes conceda permissão. A questão sobre a concessão de refúgio é central no documentário, as contradições inerentes à interpretação da lei, quem se enquadra como refugiado, quem receberá asilo, e os que têm o direito negado. Já em Os que Chegam, há uma mudança de enfoque, e o documentário retrata o dia dia de Carolie e Colette, assistentes sociais francesas que trabalham em uma instituição municipal voltada para o atendimento de imigrantes recém chegados a Paris. Dentre uma diversidade de nacionalidades, nos deparamos com dificuldades e sensibilidades que permeiam a relação entre imigrantes e funcionários estatais, entre tensões que variam desde a barreira do idioma e as impaciências que as frustrações causam em ambos os lados. Por fim, chegamos ao único filme de ficção selecionado, Ilegal. Tania é uma imigrante ilegal russa que vive na Bélgina como seu filho Ivan. Presa, é levada a uma detenção onde outros imigrantes aguardam a deportação. O filme, baseado em fatos reais, traz cenas fortes relacionadas ao cotidiano de pessoas tratadas como criminosas pelo simples fato de não possuírem permissão legal para estarem na Bélgica. O que nos chama a atenção é o fato dos três filmes se aproximarem de um mesmo debate: as estratégias lançadas na tentativa de pertencer e da criminalização que o tema adquire nos países europeus. |
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Bibliografia | APPADURAI, Arjun. Dimensões Culturais da Globalização. Lisboa, Editorial Teorema, 2004.
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