ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | As atitudes diante da morte em Le rose del deserto de Mario Monicelli |
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Autor | Adriane Piovezan |
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Resumo Expandido | Segundo o historiador Pierre Sorlin, o tema da guerra sempre esteve presente no cinema mundial. No cinema italiano a temática também exerceu forte influência ao longo das décadas. Entretanto, nosso estudo está voltado para um diretor italiano que raramente está ligado no imaginário coletivo aos filmes de guerra, pelo contrário, Mario Monicelli é considerado por muitos críticos o pai da comédia italiana, ainda que tal título seja também disputado por outros cineastas daquele país.
A questão da formação de identidades de grupo entre os soldados durante uma guerra foi tratada pelo cineasta italiano Mario Monicelli em 1959 com o filme A grande guerra que abordava a participação do exército italiano durante a Primeira Guerra Mundial. Cinquenta anos depois, o cineasta retornou o tema com Le Rose del Deserto, de 2006, agora sobre uma divisão médica italiana mandada para o deserto da Libia em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Mais conhecido pelos filmes de comédia, Monicelli ao abordar o tema da guerra e da morte em guerra não abandona totalmente este recurso, mas o utiliza mais pelo viés da ironia do que da comédia propriamente dita. Em dois momentos distintos de sua longa carreira de cineasta, o tema da guerra apareceu em seus filmes envoltos na questão da amizade entre os soldados, os conflitos a que estavam expostos naquela situação e as soluções que encontraram para conviver com as dificuldades da vida em campanha. Em ambos os filmes, o cineasta enfatiza o despreparo e a falta de noção do jovem italiano exposto ao conflito, em que a constituição de uma identidade de grupos acaba por suprindo esta necessidade de dar sentido à vida naquele momento. Estas novas identidades que se formam, tanto em La Grande Guerra de 1959, como em Le Rose del Deserto de 2006 se configuram em novas possibilidades de socialização que tais personagens vivenciam diante de uma situação em que o provisório se torna permanente. Baseado no romance autobiográfico de Mario Tobino, Il deserto della Libia, de 1955, o último longa metragem do cineasta italiano, Le Rose del Deserto, possui muitas reflexões sobre as atitudes diante da morte em tempos de guerra. No filme, os protagonistas fazem parte de um batalhão de saúde, com características individuais, os personagens se estabelecem em Sormam, um oásis no deserto da Líbia e ali esperam voltar para casa o mais rápido possível. No roteiro, adaptado do romance de Tobino, não há espaço para heroísmo. Todos pensam que logo a guerra terminará e poderão retornar às suas atividades civis. As mortes relatadas no filme são aleatórias a questão das batalhas realizadas durante a guerra. E a tragédia vem envolta com a comédia e a ironia. Nenhum dos personagens morre em função de batalhas travadas na guerra. Geralmente são acidentes e acasos não provocados deliberadamente no momento de atuação dos personagens enquanto combatentes. A condensação de personagens realizada por Monicelli oferece ao espectador uma visão do significado do convívio entre soldados durante uma guerra. Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu a partir do conceito de habitus é possível pensar a relação e a mediação entre condicionamentos sociais exteriores e as subjetividades individuais. Podemos pensar no filme Le Rose del Deserto nesta justaposição entre elementos referentes à história original, a adaptação do romance de Mario Tobino, com as relações de sua produção e as problemáticas que envolvem a sociedade italiana nos meados do século XXI, em que elementos como as configurações identitárias de grupo aparecem como determinantes no contexto histórico contemporâneo. A idéia de buscar estratégias para confirmar todos os elementos simbólicos e esquemas mentais em relação às atitudes diante da morte esperadas pelo grupo responsável pelos sepultamentos dos soldados caídos em batalha do exército italiano mostradas no filme, reforçavam a idéia de habitus em que a obediência às regras eram adaptadas. |
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Bibliografia | BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. Tradução de Sergio Miceli, Silvia de Almeida Prado, Sonia Miceli e Wilson Campos Vieira. São Paulo: Perspectiva, 1987.
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