ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Mulheres indígenas no cinema brasileiro de ficção |
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Autor | Juliano Gonçalves da Silva |
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Resumo Expandido | Há algum tempo escrevi um artigo onde faço uma análise da imagem do índio no cinema brasileiro, através do estudo de como o personagem indígena é por ele construído e veiculado através dos filmes de ficção de longa-metragem. Nestes filmes pude verificar que o processo de construção de um índio imaginário no/pelo Cinema estaria “reforçando ou duplicando preconceitos, na medida em que se constrói um índio imaginário, que na maioria das vezes não corresponde ao índio “real”, não idealizado sob a mediação de preconceitos.“ (SILVA, 2007, pp. 200) Por outro lado, continuo interessado e pesquisando o tema. No momento, influenciado por leituras de gênero e pensando em esclarecer algumas especificidades que naquela ocasião não pude aprofundar, especialmente sobre como se dá a construção da identidade da mulher indígena e de suas representações no imaginário através de alguns filmes recentes do Cinema Brasileiro. Curiosamente, naquele artigo já pontuava uma questão que pode servir como estímulo a uma rica vertente no estudo ainda inexplorado sobre o tema: “Aqui estaremos fazendo essa apreciação da análise. O índio enquanto abstração irá se concretizar em personagens e narrativas recentes e na maioria delas é do gênero feminino e vai ser o destino gerador da prole do colonizador. Exemplificando isso temos os filmes: Brava Gente Brasileira (MURAT, 2000), Caramuru (ARRAES, 2001), Tainá (LAMARCA, 2000). São geralmente submissos e representam o fascínio pelo estrangeiro, fascínio este, presente de forma muito grande entre os portugueses que vão se amancebar com elas. As mulheres indígenas seriam como que um troféu, representando uma antiga ameaça, selvagem que foi subjugada e domada, demonstrando a vitória de uma cultura sobre a outra. É curioso que quanto ao índio de gênero masculino continua sendo visto como inimigo e será o eterno bugre a ser amansado.” (SILVA, 2007, pp. 200) Paralelo a isso e buscando referências na bibliografia das Ciências Sociais brasileira sobre o tema chego à resenha Mulheres Indígenas: Representações, de autoria de Cristiane Lasmar incluído num Dossiê da “Revista Estudos Feministas”, organizado por Bruna Franchetto. A resenha é justificada pela organizadora do Dossiê em função da falta de estudos sobre o tema e a busca de se fazer uma ”arqueologia dos pré-conceitos e de suas conseqüências no que ela chama de invisibilidade de objetos e atores sociais (índios/mulheres)” (FRANCHETTO, 1999, pp.141). Lasmar parte da configuração de um índio genérico como sendo o principal problema no reflexo da construção de uma índia também genérica, afinal os reflexos de suas sociabilidades e a importância delas para nós teriam sido “irrisórias” e acabariam legitimando a caracterização da mulher índia como ser de sexualidade exacerbada. Na abordagem feita pela autora da resenha, existiriam duas visões sobre o indígena: uma positiva e outra negativa. O lado feminino, em função de sua luxúria, decorrente de uma sexualidade exacerbada e falta de pudor na visão da moralidade cristã faria parte do segmento mais degradado da humanidade, consagrando talvez aqui a velha idéia de que os indígenas viveriam sua sexualidade sem regras, diferentemente dos civilizados. A autora sublinha ainda que os homens indígenas teriam sido relativamente poupados desta qualificação, algo que curiosamente também ocorreria nos filmes. Ela, porém frisa “que é importante notar quão pouco se avançou no sentido de revelar, parafraseando Rosaldo (1980), a vida que as mulheres levam nas sociedades ameríndias” e conclui seu artigo afirmando sobre a necessidade de se garantir a visibilidade das mulheres que vivem nas “aldeias e cidades da Amazônia” sendo essa “a única forma de combater os efeitos das representações estereotipadas”. |
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Bibliografia | ALVES Paula, A presença feminina no cinema brasileiro nos anos 2000. Fazendo Gênero 9, Florianópolis: UFSC, 2010. CLIFFORD, J. “Museum as contact zones”. Routes: Travel and Translation in the late Twentieth Century. Cambridge, Harvard University Press, 1997. LAPERA, Pedro Vinicius Asterito. A presença de “Iracema, uma transa amazônica” (1974) no cinema brasileiro. Ebook-Compós, v. 11, nº 2. LASMAR, Cristiane. Mulheres Indígenas: Representações In: FRANCHETTO, Bruna (org.)Dossiê Mulheres Indígenas. Revista Estudos Feministas. Florianópolis: PPGAS/UFSC. 1999. MULVEY, Laura. Prazer Visual e Cinema Narrativo. In: XAVIER, Ismail (org) A Experiência do Cinema: antologia. Rio de Janeiro: Graal, 1983. SILVA, Juliano Gonçalves da. Entre o bom e o mau selvagem: ficção e alteridade no cinema nacional. Espaço Ameríndio. UFRGS, 2007. Rosaldo, Michele Z. A mulher, a cultura, a sociedade. Rio de Janeiro, 1979. SHOHAT, Ella & STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica.São Paulo:Cosac& Naify,2007. |