ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Enquanto se espera por Godot: análise da mise-en-scène e da edição |
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Autor | Gabriela Borges |
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Resumo Expandido | Como parte integrante do projecto de pesquisa “Didaskália: da voz autoral de Beckett à liberdade de criação”, que tem o intuito de analisar as dezenove peças de teatro adaptadas para televisão e cinema pelo projeto Beckett on Film, em 2001, esta comunicação pretende discutir as características éticas, estéticas e técnicas do (tele)filme Waiting for Godot, de autoria de Samuel Beckett e direção de Michael Lindsay-Hogg.
A peça de teatro Waiting for Godot foi escrita na língua francesa 1949 e encenada em 1953 no Théâtre Babylone, em Paris, com direção de Roger Blin. Tendo sido produzida diversas vezes no teatro, a peça foi transcriada pela emissora de televisão britânica BBC em 1961. O (tele)filme Waiting for Godot a ser analisado nesta comunicação foi dirigido pelo diretor americano Michael Lindsay-Hogg, com Barry McGovern (Vladimir) e Johnny Murphy (Estragon) na representação dos papéis da dupla de protagonistas. Os dois actores irlandeses têm muita experiência na representação das peças de Beckett, inclusive nestes mesmos papéis em produções do Festival Beckett promivido pelo Gate Theatre e encenado no Lincoln Centre, em Nova York, e no Barbican Centre, em Londres. A concepção do projeto Beckett on Film previa muitas restrições em termos da adaptação da peça para o meio audiovisual, destacando-se a proibição de qualquer alteração das instruções constantes nas didascálias, bem como dos diálogos. De facto, esta restrição influenciou a criação fílmica, pois todos os directores tiveram de cumpri-la. No entanto, por outro lado, lançou um desafio bastante interessante em termos da construção dramatúrgica e da criação da própria mise-en-scène no meio audiovisual. A peça consta de dois homens, Vladimir e Estragon, que esperam numa estrada vazia pela chegada de Godot. Todo o enredo é construído enquanto estão esperando a chegada de Godot, que no entanto nunca aparece. Alguns personagens (Pozzo, Lucky e o menino) passam por esta estrada e interagem com os protagonistas, que nunca abandonam os seus postos. O segundo acto é uma repetição do primeiro, o que levou a crítica irlandesa Vivian Mercer a afirmar que Waiting for Godot é uma peça em que “nada acontece duas vezes”. Esta comunicação tem o intuito de abordar, num primeiro momento, a importância histórica da peça, que mudou completamente a forma de se fazer teatro nos palcos de Paris, Londres e Nova York, entre outros. E a sua riqueza metafórica, pois possui tem uma narrativa extemporânea que, pelo seu carácter universal e humano, continua a ser extremamente pertinente nos dias de hoje. Num segundo momento serão analisadas as especificidades audiovisuais que estão relacionadas com as didascálias e os diálogos e que tiveram forte incidência nas opções estéticas do director em termos da misé-en-scene e da edição. É de referir que esta peça apresenta um grande desafio no que diz respeito à construção do espaço, pois foi pensada para um grande palco com duas figuras e poucos elementos de cena a fim de representar a vastidão do vazio e do desolamento. No meio audiovisual, em que o espaço é mais compacto, serão analisados os enquadramentos e as opções de edição e reconstrução espacial que preservam, ou não, esta metáfora tão importante para o processo de significação do texto dramatúrgico. E, num terceiro momento, será discutida a criação de um produto audiovisual que de certo modo tem de se adequar para ser exibido na televisão e no cinema. Este (tele)filme foi exibido em festivais de cinema ao redor do mundo, bem como no Channel 4 e na televisão irlandesa RTÉ, entre outras. A questão que se coloca para discussão relaciona-se com as opções estéticas não apenas para a transcriação da peça de teatro para o meio audiovisual, mas também a adequação de um (tele)filme para ser exibido tendo em conta as especificidades das duas linguagens, fílmica e televisiva. |
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Bibliografia | BECKETT; Samuel. The complete dramatic works. 2ªed. Londres: Faber and Faber Limited, 1990.
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