ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Os mil platôs culturais dos documentários musicais |
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Autor | Caroline da Silva |
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Resumo Expandido | Como poderíamos interpretar as notas visuais de um repórter-cineasta? O escritor italiano Mássico Canevacci (2001), defende claramente uma antropologia do cinema. Mas é impossível falarmos de audiovisual, sem considerar que o filme é um produto idealizado, manufaturado e distribuído por uma indústria cinematográfica.
De três anos (2008) para cá, a produção nacional assinalou diversos longas-metragens documentários resgatando ícones, fatos ou gêneros da música popular brasileira. Entre esses títulos, pode-se citar: O milagre de Sta. Luzia, Elza, Palavra (En)cantada, O homem que engarrafava nuvens, O samba que mora em mim, Waly, Wilson Simonal – Ninguém Sabe O Duro Que Dei, Coração vagabundo, Loki – Arnaldo Baptista, Uma noite em 67. Há muitos outros, esses são ditos rapidamente. Então, pergunta-se: é possível identificar imaginários do Brasil representados pelo ponto de vista do cineasta no seu produto final, o documentário? Não estariam presentes o mito do sertão e do retirante em O milagre de Sta. Luzia e O homem que engarrafava nuvens? O segundo é um filme sobre a vida e a obra do compositor, advogado, deputado federal e criador das leis de direitos autorais, Humberto Teixeira. O Doutor do Baião, como Teixeira era conhecido, assina a autoria de clássicos da música popular, como por exemplo, Asa Branca. O média-metragem dirigido pelo reconhecido diretor pernambucano Lírio Ferreira é uma celebração da obra artística e musical de um brasileiro, e parte da inquietação de sua filha Denise Dummont em querer conhecer mais a história do pai. Mostrando a diversidade cultural brasileira por meio da musicalidade da sanfona, o cineasta – estreante em longas – Sérgio Roizenblit faz um mapeamento cultural das diferentes regiões do país onde o instrumento se estabeleceu no filme O Milagre de Sta. Luzia. Entre preciosos registros desses grandes artistas populares, estão os do poeta Patativa do Assaré e dos músicos Sivuca e Mário Zan, falecidos pouco tempo depois de suas entrevistas para o documentário. Em entrevista à autora em fevereiro de 2010, Lírio Ferreira avaliou ser positivo esse fenômeno de documentários musicais na filmografia nacional e comentou: “O cangaço é um tema peculiar do Brasil, todo ano aparece um filme novo. É uma coisa normal, música oficialmente é nossa identidade cultural lá fora, a gente não é reconhecido pelo cinema, teatro ou artes plásticas. Acho que nada mais natural, com o potencial que o cinema tem de contar uma boa história, de fazer novas apreensões. É uma coisa nova, bem intensa, talvez pela facilidade de filmar que se tem hoje. Vão ter ainda muitos filmes que falem do universo musical pela frente”. Para a Escola de Palo Alto, da qual Bateson é o grande representante, a essência da comunicação reside nos processos relacionais de interação, nos comportamentos e na sucessão de mensagens (o contexto). Outra questão relevante é a mediação da cultura e do imaginário. Segundo outro integrante da “Universidade Invisível” muito preocupado com as questões do contato e da dimensão oculta da cultura, Edward Hall, “a cultura é decifrável: é preciso apenas descobrir pouco a pouco a sua ‘linguagem silenciosa’” (Winkin, 1998, p. 93). Para o pesquisador, “todo o silêncio fala”, o que também traduz as escolhas do cineasta, quando decide deixar em um filme um certo período sem diálogo. Estabelecendo um recorte para analisar a relação do diretor e de seus "documentados" o trabalho objetiva identificar as formas de (re)construção dos imaginários em um filme documentário. "Assim, não se pode mais falar de uma forma sonora que viria organizar uma matéria; nem mesmo se pode mais falar de um desenvolvimento contínuo da forma. Trata-se, antes, de um material deveras complexo e bastante elaborado, que tornará audíveis forças não-sonoras" (Deleuze, 1995). O autor instiga a pesquisadora a reconhecer as forças presentes neste material, o documentário, tão complexo e "montado" que acaba por fornecer um "retrato" da cultura brasileira. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques & MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. Campinas, SP: Papirus, 2003.
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