ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Paisagens afetivas em Viajo porque preciso, volto porque te amo |
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Autor | Adalberto Muller Junior |
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Resumo Expandido | As emoções, os afetos e os sentimentos sempre fizeram parte da representações estéticas: da tragédia grega aos melodramas, passando pela grande tradição literária e pela pintura, que fixou e codificou a alegria, a compaixão, o medo, o rancor ou a melancolia em palavras, gestos e olhares. Nos últimos anos, porém, vemos proliferar uma série de discursos e teorias (Cf. GRECO, & STENNER, 2007) sobre os afetos e as emoções em diversas áreas do conhecimento (neurologia, psicologia, sociologia, filosofia, artes), que discutem as diferentes condicionantes e expressões dos afetos e das emoções, além dos incontáveis livros de auto-ajuda sobre o tema. No cinema dos anos 90/2000, cada vez mais o núcleo familiar e as relações afetivas, a vida íntima e cotidiana ganham proeminência. E não apenas no mainstream, que sempre explorou as formas e gêneros afetivos (sobretudo o através do melodrama) e as estratégias de controle dos afetos e emoções do espectador, mas no próprio cinema autoral (basta lembrar de casos paradigmáticos como "Segredos e Mentiras" – Mike Leigh, 1996 –, de "Carne trêmula" – Pedro Almodóvar, 1997 –, ou de "Amor à flor da pele", de Wong Kar-wai). Por outro lado, os afetos e as emoções habitam o discurso dos estudos cinematográficos: da imagem-afeto de Deleuze aos “post cinematic affects” de Steven Shaviro, e nos estudos voltados para a questão do melodrama. No Brasil, encontramos tanto uma vertente de estudos sobre afetos e emoções no campo do homoerotismo (cf. LOPES, 2007) quanto estudos que se alinham com uma poética do melodrama (XAVIER, 2003). É sobretudo a partir dessa última vertente que venho discutindo alguns filmes do cinema brasileiro contemporâneo (como "Viajo porque preciso, volto porque te amo" e "Cabeça a prêmio"), buscando entender o papel que neles desempenham emoções e afetos. Segundo Ismail Xavier, filmes como "Central do Brasil" começaram a deslocar o terreno da discussão política do público para o familiar, saindo da esfera do Estado e das relações de poder, para a esfera privada dos afetos. Para Xavier esse deslocamento de boa parte da nossa produção cinematográfica ficcional para questões afetivas – e sobretudo para o melodrama, enquanto “sedução moral negociada”, e para filmes em que se apresentam as “figuras do ressentimento” (XAVIER, 2001)– ainda aponta para um “diagnóstico nacional”, ou seja, uma nova forma de alegoria. No entanto, será que não poderíamos pensar que se trata menos de um diagnóstico do que de um sintoma? Não será esse um cinema que está querendo “sentir tudo de todas as maneiras” numa época de apatia, de anestesia dos sentimentos e das emoções? Trata-se aqui de reconhecer esse território estético das emoções e dos afetos, de mapear essa paisagem afetiva que se apresenta no cinema brasileiro recente. Penso nesse termo, paisagem afetiva, como se pensava em mediascape ou em soundscape, alinhando-me com estudos sobre paisagem desenvolvidos nas artes e na literatura (Cf. ALVES e FEITOSA, 2010), mas considerando ao mesmo tempo a pluralidade de estudos sobre afetos e emoções, e também sobre mídias e emoções (SCHMIDT, 2005). De que modo a paisagem do sertão, uma paisagem marcada (desde "Os sertões") por uma tradição politizada, que discutia o espaço do sertão como dilema da modernização, é vista hoje por um olhar afetivo e emocional em um documentário (?) lírico-experimental como "Viajo porque preciso, volto porque te amo", que mostra imagens do sertão enquanto entrelaça considerações geológicas a dilemas íntimos e amorosos do narrador? Queremos assim entender como se entrelaçamento da voz narrativa com as emoções, e ao mesmo tempo, do fluxo das imagens com os afetos. |
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Bibliografia | ALVES, I. F. & FEITOSA, M.M. Literatura e paisagem. Niterói: EDUFF, 2010.
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