ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Montagem e modos de representação no documentário de Eduardo Coutinho |
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Autor | Patrício Alves Miranda da Rocha |
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Resumo Expandido | Um dos grandes equívocos cometidos na tentativa de chegar a uma definição de documentário é tentar associar esta definição a palavras como “realidade”, “objetividade” etc. Como observa Ramos (2008, p. 30), tais conceitos são por demais vagos, afinal “um documentário pode certamente mostrar algo que não é real e continuar a ser documentário”. Mais do que mostrar a realidade dos fatos, o documentário cria asserções em torno da realidade, dando liberdade criativa ao diretor para que este possa mostrar não a “realidade dos fatos”, mas um olhar, um ponto de vista a partir de algo que faz parte do mundo em que vivemos. Assim, o documentário é dotado de voz própria, a partir do momento em que deixa de ser mera reprodução do mundo real. Nichols (2009, p. 73) define “voz” no documentário como sendo “a maneira especial de expressar um argumento ou uma perspectiva”. Para isso, utiliza-se dos meios típicos do audiovisual: a seleção e arranjo de sons e imagens que dão ao filme uma lógica organizadora. Tendo como fio condutor deste processo de organização a própria história dos fatos narrados, o processo de montagem no documentário, ao contrário do cinema de ficção, se apóia muito menos em questões de continuidade espaço-temporal do que em uma lógica argumentativa conduzida pela forma como são feitas as asserções do mundo real no documentário. A este processo Nichols chamou de “montagem de evidência”. (idem, p. 58). Como desdobramento destes conceitos, o autor divide as diversas vozes possíveis no documentário em seis modos de representação: poético, expositivo, participativo, observativo, reflexivo e performático. Na produção brasileira atual de documentários, Eduardo Coutinho destaca-se como diretor atuante, mantendo desde “Santo Forte” (1999) uma média de produção de um filme por ano, sempre com uma “forma de trabalho ou de arte minimalista, que se concentra em uma operação de subtração de tudo o que não lhe parece essencial.” (LINS, 2007, p. 12-13). Desta forma, Coutinho vai conduzindo a entrevista, e ao mesmo tempo se deixando conduzir por ela, de maneira que a palavra dos personagens torna-se o fio condutor de sua obra. O encontro entre o cineasta e o personagem, a transformação deste último diante da câmera e até mesmo a negociação com a equipe de filmagem tornam-se transparentes para o espectador. Na entrevista, Coutinho atua por meio de uma “escuta ativa” (LINS e MESQUITA, 2008, p. 18), abstendo-se de qualquer pré-julgamento e mantendo uma postura também ativa ao discutir, pensar e repensar tanto o processo de filmagem como o de montagem dos seus filmes. Iremos neste artigo analisar na obra de Eduardo Coutinho – especificamente em |
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Bibliografia | AUGUSTO, Maria de Fátima. A montagem cinematográfica e a lógica das imagens. São Paulo: Annablume, Belo Horizonte: Fumec, 2004. D'ALMEIDA, A.D. O processo de construção de personagens em documentários de entrevista. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 29., 2006, Brasília. Anais...São Paulo: Intercom, 2006. EINSESTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002. LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2007. 2.ed. LINS, Consuelo e MESQUITA, Cláudia. Filmar o real: sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed, 2008. NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2009. 4. ed. RAMOS, Fernão Pessoa (org). Teoria contemporânea do cinema: documentário e narratividade ficcional. São Paulo; Ed. Senac, 2005. RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal... o que é mesmo documentário? São Paulo; Ed. Senac, 2008. |