ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Memória, mimese e processos de aprendizado pelo cinema |
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Autor | Milene de Cássia Silveira Gusmão |
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Resumo Expandido | O compartilhamento de saberes e fazeres propiciados por vivências nos âmbitos da produção e do consumo cinematográfico proporcionaram o surgimento de diversas organizações e ou instituições que tiveram o cinema como referência para formação e realização. Esses espaços se tornaram expressivos das mediações realizadas por especialistas, consumidores e produtores culturais, que ao se entregarem às práticas, além de reproduzirem os repertórios culturais dos quais foram providos, também foram capazes, enquanto percorriam a vida social, de modificar e moldar tais práticas no movimento em que estas se estendiam por meio de cadeias ininterruptas de gerações. Pensando nestes termos, o cinema tanto se caracterizou como meio, linguagem e possibilidade expressiva, quanto suporte material de memória, viabilizando processos de aprendizagem, engendrando e ressignificando práticas sociais de geração em geração. Tomando estas observações como referência, este trabalho pretende tratar brevemente da relação entre consumo cinematográfico e aprendizados miméticos. Compartilhando da opinião de Gebauer e Wulf (2004, p.10), compreende-se que as habilidades miméticas permitem ao homem ser reconhecido e fazer-se reconhecer por meio da experiência comum, da comunhão dos gestos em que se compartilham códigos e ritos. Os gestos miméticos guardam um fundamento simbólico, justamente pelo fato de que o símbolo compõe a memória social. Para os autores, no momento que o homem recorre ao gesto mimético participa como co-criador do próprio símbolo. Nesse sentido, a idéia de mimese se refere às relações interdependentes entre os homens e à maneira como se apreende pelo corpo. Os processos de aprendizados miméticos dizem respeito aos conhecimentos práticos intimamente relacionados ao corpo e à capacidade perceptiva e expressiva do homem. Para o que aqui interessa, a discussão recai sobre a importância dos aprendizados e dos processos de transmissão que são estruturados mimeticamente em variadas vivências, numa dinâmica que não termina com a fase da aprendizagem escolar, mas se prolonga no curso da vida. Gebauer e Wulf (2004, p.37), consideram que cada encontro entre os homens depende da relação intermediada pelos processos miméticos, uma vez que, sem estes, não é possível simpatia ou antipatia, compreensão ou aversão, intersubjetividade. Também os processos visuais não se esclarecem suficientemente sem uma retomada à capacidade mimética do homem. As relações que os indivíduos mantêm com os seus contemporâneos e com o meio ambiente em que vivem se estruturam em níveis de desenvolvimentos primários marcados por atos de adaptação e incorporação ao que se encontra em vigência nas relações sociais. Isto acontece nas atividades construtivas e nos processos corporais nos quais se realizam relações sensitivas ao mundo. Todavia, para os autores, isso ocorre abaixo do grau dos processos cognitivos, pois diz respeito a um conhecimento do mundo realizado diretamente pelo do corpo, por sua relação sensível na vida. Em se tratando dos processos de aprendizado pelo cinema observam-se diversos exemplos de práticas sociais relacionadas ao consumo cinematográfico, reveladoras de processos de aprendizado que parametram as possibilidades expressivas e se revelam na tessitura das sociabilidades constituídas ao longo do tempo sob os estatutos da produção e do consumo. No entanto, em que medida seria possível diferenciar os aprendizados miméticos dos aprendizados teóricos reflexivos em ambiências de consumo cinematográfico? Qual seria a motivação para proceder tal diferenciação? Uma resposta possível estaria na experiência mimética vivenciada pelo espectador, que se refere antes aos comportamentos e às sensações do que às valorações éticas e teóricas, como um dos fatores para explicação do grande sucesso do cinema em todo o mundo, desde o seu surgimento, embora as diversidades culturais.
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Bibliografia | BOURDIEU, Pierre. Meditações Pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2001.
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