ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A trilha sonora de Orfeu na estratégia narrativa de Cacá Diegues |
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Autor | Fabiana Quintana Dias |
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Resumo Expandido | Orfeu: do mito a realidade brasileira. A importância da trilha sonora na estratégia narrativa de Cacá Diegues e sua relação com o contexto sociocultural de uma época
“Orfeu” é um filme que remonta a uma tradição realista muito vasta principalmente através da trilha sonora e que é pouco comentada e debatida. A interação entre o som e a imagem é utilizada para retratar a realidade da favela carioca. A música, ou simplesmente a percussão de alguns instrumentos, faz com que o espectador localize geograficamente onde transcorre a cena e nos traz informações sobre o espaço cultural em que acontece através da combinação desses sons. Elementos auditivos e visuais se complementam entre si. Michel Chion em seu livro Le son (2004) comenta sobre a imagem e o som no caso das narrativas cinematográficas, dizendo que este é tão importante quanto à imagem visual na composição da narrativa fílmica. A construção de sua trilha sonora é repleta de diferentes gêneros musicais e sons que representam o país e que acabam os endereçando a um público específico. A maior parte da trilha musical do filme é formada por canções compostas e executadas por artistas ligados ao movimento do morro e outras interpretadas pelo próprio Orfeu (Toni Garrido), que é no filme um cantor popular de sucesso no morro e que com seus sambas leva a escola Unidos da Carioca a ser tri-campeã do Carnaval. Uma forma identitária que compõe a narrativa fílmica e reveste de credibilidade ainda mais o discurso construído por trás da história dramatizada na tela, evocando efeitos no telespectador com relação à representação da chamada “vida real”. “Orfeu” propõe a descoberta de novas formas, de novas misturas e miscigenações que marcam tanto a música como os próprios costumes brasileiros. As canções têm grande importância na estrutura do filme e fazem parte de toda a narrativa. A todo o momento elas expõem o regionalismo e o modo de viver de uma comunidade, como no caso de Orfeu, onde o hip-hop e o samba dominam a favela do Morro da Carioca. É a maior tradução deste grupo social e do lugar onde vivem. É através das canções e dos efeitos usados que Cacá mostra o espaço da favela e do Carnaval se realizando, ampliando o que a fotografia já nos oferece. Os sons e ruídos envolvem o espectador em espaços sonoros que indicam tensão, paixão, violência e alertas. O som tem uma função comunicativa explícita, revelando e indicando informações ao telespectador por meios sonoros diversos (desde o ruído de uma pedra batendo na janela, mostrando que jogaram ou para indicar que estão chamando alguém, até os tiros e fogos de artifício, que revelam que a polícia está subindo o morro), exemplos em “Orfeu” que serão destacados adiante. Ou seja, uma grande quantidade de informações é colocada em cena através de ruídos e efeitos, enriquecendo ainda mais o processo narrativo e o desenvolvimento de uma cena. Enfim, a realidade foi construída e sua legitimidade é dada pelos pressupostos estabelecidos no filme. Ele mostra em certos momentos um realismo quase documental e com seus códigos de representação destacam uma impressão muito próxima da realidade através das imagens e da sonoridade expostas. |
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Bibliografia | ALVES, Henrique.1968. Sua excelência o samba. São Paulo: Editora Palma.
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