ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | CM e EB: congruências no cinema moderno pós-1968 |
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Autor | Estevão de Pinho Garcia |
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Resumo Expandido | A passagem da década de 1960 para a de 1970 significou um momento fundamental para a cultura cinematográfica e representou uma evidente mudança de paradigmas e uma substancial reavaliação dos modelos estabelecidos e defendidos na década anterior. Determinadas posturas e conceitos manejados pelo cinema moderno começaram a ser questionados. Novas proposições a respeito da criação de imagens e de seu vínculo com a “realidade” apareceram neste contexto. Essa nova maneira de se relacionar com o cinema e de relacionar o cinema com o mundo implicou uma redefinição das relações estabelecidas entre cinema e sociedade e entre cinema e política. Tal processo em direção à um novo olhar frente a interação entre a arte e as questões de seu tempo começa a se tornar mais nítido, segundo Francesco Casetti, a partir de 1968. É exatemente nesse contexto histórico que surgen duas correntes modernas, uma no Brasil e outra na Espanha, que conectadas praticamente às mesmas influências, promovem uma grande reviravolta no interior de suas respectivas cinematografias(ambas, cinematogrias "periféricas"). Essas duas vertentes são o Cinema Marginal (CM) e a Escuela de Barcelona (EB).
A principal referência em comum é sem dúvida o primeiro Godard, que podemos pontuar como o de "À bout de soufle" (1959) a "Made in USA" (1966). Tal influência aparece sobretudo no caráter subversivo da profanação das regras do cinema clássico e na auto-reflexividade. É comum, tanto no CM como na EB a presença de propostas de articulação reflexiva entre o enunciado e a enunciação. A presença da fonte produtora que está por detrás do discurso é freqüentemente denunciada. O cinema apresenta a consciência de ser cinema e não pretende estabelecer nenhuma relação mimética com a realidade. Também encontramos nas duas correntes um grande número de citações que, muitas vezes, provêm da mesma fonte. Se tanto o CM como a EB surgiram em um momento de crise dos Cinemas Novos, este fator se relaciona diretamente às suas relações com os movimentos que os antecederam: o Cinema Novo brasileiro e o Nuevo Cine Espanhol, respectivamente. Tanto o Cinema Novo como o Nuevo Cine Espanhol definiram o cinema de seus jovens “sucessores” com os mesmos adjetivos: alienado, esteticista, reacionário,desideologizado.Por tanto, eis aqui uma semelhança fundamental: ambos são uma reposta a movimentos precedentes. Outros aspectos comparativos podem ser abordados, como a relação estabelecida entre a EB e o CM com as outras artes. La EB cinematográfica se relacionou com as EB de outros campos: moda, arquitetura, desenho, publicidade. Por sua vez o CM estava intimamente conectado aos Tropicalistas da música: Caetano Veloso e Gilberto Gil, do teatro: o Grupo Oficina de José Celso Martínez Corrêa. Assim como a artistas plásticos de vanguarda (Helio Oiticica, Lygia Clark, Cildo Meirelles),a poetas e letristas (Torquato Neto, Waly Salomão), a críticos e teóricos da estética (Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari).Também podemos mencionar a compartilhada incorporação de elementos considerados pouco nobres ou de “baixa cultura”: a música pop, os quadrinhos, o cinema de gênero, a pop-art e a publicidade. Em outras palavras: a relação com a cultura de massa. E também o diálogo com a contracultura e o happening. Embora não seja o enfoque principal de nosso trabalho, a comparação de procedimentos estéticos e formais que pretendemos realizar entre os dois grupos de filmes não deixará de considerar as particularidades históricas de cada contexto estudado. |
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Bibliografia | BRETÓN,Juan A. Martinez, La denominada Escuela de Barcelona, Madrid: Ed. De la UCM, 1984.
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