ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O ensaio fílmico no cinema português |
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Autor | Carolin Overhoff Ferreira |
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Resumo Expandido | De forma geral, o filme-ensaio é definido como uma obra de arte aberta que foge a uma fixação dentro dos parâmetros dos gêneros estabelecidos. No contexto acadêmico, filmes ensaístico são vistos ou como uma forma narrativa basilar do mundo moderno (Scherer, 2001), em pé de igualdade com os gêneros ficção, não-ficção e cinema experimental, ou considerados representantes de anti-gênero, por escapar a qualquer tipo de definição, pois atravessam e reorganizam todos os gêneros e subgêneros existentes (Krohn, 1992). O impulso “anti-sistêmico” (Adorno, 2003), a visão subjetiva do cineasta e a auto-reflexividade em relação à mídia são habitualmente nomeados como características de filmes que resistem a uma recepção passiva e que procuram envolver o espectador na renovação do relacionamento entre som e imagens, questionando limites, possibilitando, assim, um encontro entre literatura, filosofia e mídias visuais que desconhece hierarquias (ver, por exemplo, Möbius, 1991; Blümlinger/Wulff, 1992; Machado, 2006).
Perante a falta de unanimidade em relação à definição do filme-ensaio como gênero autônomo ou como subgênero do documentário, esta comunicação pretende olhar para a história do cinema português e suas produções contemporâneas para argumentar em favor de um terceiro gênero – o do ensaio fílmico – que complementa o filme de ficção e de documentário. Ou seja, a comunicação testará a hipótese da existência de um gênero que tem sido elaborado tanto dentro dos filmes de ficção quanto dentro dos filmes de documentário, mas que encontra no capitalismo tardio, no momento em que o auge do pós-modernismo passou – uma maior visibilidade, pois um maior grupo de filmes tidos como ficcionais possuem agora características que os distinguem dos filmes convencionais comumente associados ao gênero e os unem aos filmes até agora classificados como pertencentes ao documentário. O caso do cinema português é particularmente interessante para defender o gênero “ensaio fílmico”, pois o ensaio possui uma forte tradição e visibilidade cultural. Contudo, alguns de seus mais emblemáticos cineastas que apresentam traços ensaísticos ainda não foram estudados sob este prisma. Isto é, sobretudo, verdade para os cineastas mais celebres como Manoel de Oliveira, João César Monteiro e Pedro Costa. No Brasil o conceito já penetrou o mundo acadêmico e está sendo discutido por André Brasil (2006), Consuelo Lins (2006, 2008), Arlindo Machado (2006) e Marília Rocha (2006), entre outros, além de ser abordado em teses de mestrado e doutorado, cursos acadêmicos, bem como em comunicações de eventos científicos. Mesmo assim, ainda não foi encarado como gênero autônomo, senão como fenômeno marginal, relacionado, na maioria das vezes, ao cinema documentário; apesar de existirem autores, como Ismail Xavier (2009: 286), que têm vindo a assinalar que “a noção de filme-ensaio abre um novo caminho para repensar as articulações entre o que a tradição chama de ficção e de documentário”. Dado este panorama, a contribuição desta comunicação incide na demonstração da participação do cinema português neste fenômeno. Vale lembrar que habitualmente apenas alguns cineastas do cinema mundial são referenciados como ensaístas. A veneração de Chris Marker e, mais ainda, de Jean-Luc Godard, apesar de merecida pelo papel desempenhado na afirmação do filme-ensaio, ofusca não só as mudanças ocorridas dentro deste, mas também sua diversidade ao redor do globo. |
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Bibliografia | Adorno, Theodor. Notas de Literatura I. São Paulo: Editora 34 e Duas Cidades, 2003.
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