ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Lucrecia Martel: gênero e melodrama como representação |
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Autor | Mônica Brincalepe Campo |
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Resumo Expandido | O cinema da Lucrecia Martel é eminentemente feminino, e a questão de gênero está sempre presente em suas tramas. Já o melodrama é a expressão latino-americana mais representativa das narrativas que produzimos. Acreditamos que estas afirmações possam encontrar conexões ao adentramos na análise da obra da cineasta Lucrecia Martel. Em nossa análise percebemos que ela não renuncia de todo ao modelo melodramático, mas se apropria de maneira particular de sua expressão. Porque os personagens nunca mergulham no desespero apaixonado do melodrama a diretora acaba por produzir no espectador a ansiedade deste momento de catarse, que nos é frustrado ao final. Este diálogo que ela estabelece entre a narrativa melodramática e o cinema de gênero é para nós um dos indícios de sua particularidade como cineasta e tema a ser discutido neste comunicação.
A cineasta argentina Lucrecia Martel é a principal referência quando se fala do nuevo cine argentino, corrente cinematográfica argentina que passou a ser desenvolvida a partir das leis de incentivo do final dos anos 1990 e início deste século. O olhar eminentemente feminino de Martel instiga a análise de seus filmes a partir da perspectiva de cinema de gênero. Os filmes elaborados por ela e que indicamos são os três longas-metragens: O Pântano (2001), A Menina Santa (2005) e La mujer sin cabeza (2008), entretanto, devemos lembrar que antes, em 1994, ela realizou o curta Rey Muerto, em que esta abordagem já estava ali trabalhada. Investigamos nesta comunicação como poderíamos comprovar este olhar feminino em sua cinematografia, e ainda questionamos em que isto poderia indicar alguma diferenciação e particularidade de sua produção. Os filmes de Lucrecia Martel possuem como personagens centrais mulheres, e suas tramas se referem a questões pertinentes a este universo. Entretanto, acreditamos que isto não é o suficiente para indicar que a abordagem da diretora seria necessariamente marcada por um olhar feminino. Assim, procuramos demonstrar como podemos perceber este olhar específico analisando a elaboração de sua obra. Para isso, o caminho que propomos explorar é o do limite narrativo que nos parece perseguir a cineasta ao longo de seus trabalhos. O melodrama surge como um gênero não explorado em todos os seus filmes, mas sempre enamorado, próximo o suficiente para ser vislumbrado em muitas das cenas, mas abortado em meio a este processo. No momento em que o excesso, o chamado mal gosto, as características indicadas do melodrama parecem que irão invadir a tela e serão adotadas como parte a ser incorporado ao produto fílmico, a cineasta desvia e não satisfaz o espectador educado a receber esta narrativa reconhecida da produção massiva. Seus filmes sempre resvalam mas se negam a este mergulho no melodrama. A diretora deliberadamente não explora estas situações, mas as constrói e instiga. Assim, o melodrama não se instala apesar de estar ali sempre presente como referência para os espectadores. O melodrama é, reconhecidamente, a mais popular das representações latino-americanas, e tem sido, imediatamente, relacionado como pertencente às narrativas femininas. Partimos no desenvolvimento deste trabalho do viés metodológico da análise fílmica porque acreditamos que é necessário mergulhar na análise do filme para que se possa explorar como se estabelecem características específicas na obra. Selecionamos seqüências nos três longas da diretora para efetuar esta comprovação. Portanto, analisaremos os enquadramentos e movimentos de câmera, os cenários, a iluminação, os personagens, o som (ruídos e músicas), os diálogos e falas, buscando nestes recortes encontrar sustentação para a primeira afirmação desta comunicação, a de que o cinema de Lucrecia Martel é um cinema de gênero e o melodrama é desenvolvido com particularidade em sua obra, sendo percebido a partir da perspectiva de sua apropriação das representações do feminino. |
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Bibliografia | MULVEY, Laura. “Cinema e Sexualidade”. In: XAVIER, Ismail (org) O cinema no século. Rio de Janeiro: José olympio, 1989.
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