ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Guerra e Paz, o uso da encenação nas séries de documentários da RBS/TV |
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Autor | Cássio dos Santos Tomaim |
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Resumo Expandido | Este trabalho procura problematizar o entrelaçamento da ficção e da não-ficção como estratégia narrativa nos seriados produzidos pelo Núcleo de Especiais da RBS TV, emissora filiada a Rede Globo no Rio Grande do Sul. Em uma observação preliminar nota-se que é recorrente nas séries de documentários da emissora um apelo à reconstituições ou encenações da história, quase sempre baseadas em depoimentos dos personagens sociais, o que aproxima estas produções de um subgênero do documentário, o docudrama, uma mescla entre o documentário e a dramaturgia. Neste sentido nos interessa investigar o uso das “encenações-construídas” (Fernão Ramos) questionando suas contribuições e limitações estéticas e éticas para a representação do passado nos documentários para a televisão.
Como corpus iremos analisar o seriado Guerra e Paz, exibido entre julho e agosto de 2010, que apresentou cinco episódios que procuraram relacionar o Rio Grande do Sul ao contexto da Segunda Guerra Mundial. São eles: Falsário de Hitler (17 jul.); Ensaios de Guerra (24 jul.); Aos olhos de Santa Bárbara (31 jul.), Soldado Kleine (07 ago.) e Prisioneiros (14 ago.). Parte-se da hipótese de que o docudrama tem sido a melhor estratégica narrativa para os seriados documentais da RBS na medida em que se apropriam dos recursos da não-ficção, que realimentam o sistema de crença no enunciado sobre o passado, ao mesmo tempo em que procuram um maior diálogo com o telespectador por meio da dramaturgia, um misto de entretenimento e informação, um produto híbrido. Levando em consideração que nas cenas de reconstituição histórica faz-se uso de atores profissionais, entretanto em sua maioria desconhecidos do grande público, um artifício que visa produzir um efeito de verdade nos espectadores como se estivessem diante de um enunciado de não-ficção, quando na verdade se trata de uma “encenação-construída” que se caracteriza por um distanciamento completo da circunstância do mundo vivido, seja espacial e temporalmente. A tomada é controlada, não estamos diante de uma imagem intensa ou de um registro in loco da intensidade da vida, mas de uma imagem que se pretende indicial. Isto nos leva a refletir sobre o próprio caráter limitador do subgênero docudrama quando se percebe que na maioria das produções documentais da emissora gaúcha as encenações são construídas a partir do que diz os entrevistados, quase sempre “vozes institucionais” (historiadores, sociólogos, etc) e pessoas que tiveram um envolvimento direto ou indireto com a história a ser contada. Portanto, estes documentários se apóiam em enunciadores reais para oferecer uma leitura ficcional do passado, em que a dramatização dita o ritmo. Se levarmos em consideração que todo documentário é a representação do passado (Bill Nichols), pode-se dizer que em Guerra e Paz estamos diante de um duplo constructo do real. Estratégia que me parece apropriada para uma emissora filiada que tem que cumprir certas exigências, seja quanto ao público, ao anunciante, para integrar o seu produto audiovisual na grade de programação da rede mãe, neste caso a Rede Globo de Televisão. Reconhecendo que estas produções do Núcleo de Especiais da RBS/TV tem estimulado o crescimento do mercado para produtoras independentes no Estado do Rio Grande Sul, diante de um maior diálogo entre a televisão e o cinema, procuro uma maior compreensão do lugar que o documentário ocupa neste cenário televisivo regional, levando em consideração que a própria televisão, desde as suas origens, foi concebida como um dispositivo não-ficcional. |
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Bibliografia | BALOGH, Anna Maria. O discurso ficcional na TV. São Paulo: Edusp, 2002.
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