ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O caso Cisne negro |
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Autor | Fernando Morais da Costa |
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Resumo Expandido | A diluição das fronteiras entre ruídos e músicas é uma ferramenta usual do cinema moderno. Não constitui novidade alguma, pelo contrário, tornou-se um chavão, dizer que o ruído do carro de boi em Vidas Secas, citado por Noel Burch, tem uma função supostamente musical, que desconstrói os limites entre diegese e não-diegese. Pode-se dizer que isso ocorre, para ficar no âmbito do cinema brasileiro moderno, não apenas em Vidas Secas, mas em uma série de outros filmes, como em O amuleto de Ogum, também de Nelson Pereira dos Santos e sonorizado por Geraldo José, ou em Os fuzis, som de Geraldo José, mais uma vez. A indistinção entre o que seria ruído e o que seria definido classicamente como matéria musical tornou-se, no cinema, símbolo de modernidade, como já havia ocorrido na própria música. Exemplos óbvios são a sempre citada obra de John Cage, a música concreta que faz do uso dos ruídos seu emblema, e experiências um pouco menos citadas como as do músico futurista da década de 1910 Luigi Russolo. No crescente campo de análise da música popular, não faltam exemplos evidentes, como os de, para citar dois, Hermeto Paschoal e Tom Zé.
O que nos interessa dizer é que o cinema contemporâneo tem transformado em clichê o que já foi motivo de surpresa no cinema moderno. Um musical como Chicago, um representante do cinema japonês como o Zatoichi de Takeshi Kitano, o Dançando no escuro de Lars Von Trier tornam claro para os espectadores que ruídos podem desempenhar funções usualmente delegadas à música, que a música pode ser constituída por ruídos, ou pode nascer a partir deles. Darren Aronofsky é usuário constante de tal metamorfose dos ruídos em matéria musical. Pi, o longa-metragem que o tornou conhecido, delega aos ruídos boa parte da construção dos desconfortos do personagem principal; em Réquiem por um sonho, a rotina da preparação das drogas e de seu consumo tem seu ritmo construído a partir da organização musical dos ruídos que vêm das ações; no recente Cisne Negro nos parece que há uma generalização de tal procedimento, desta vez não aplicado apenas a momentos chave da trama, mas executado de forma constante no decorrer do tempo de projeção. A partir de tal exemplo, podemos perguntar: o que já foi estranhamente moderno tornou-se usual? |
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Bibliografia | CAGE, John. M: Writings 67-72. Hanover: Wesleyan University Press, 1973.
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