ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O cinema direto em Quebec – notas sobre uma Revolução Tranquila |
|
Autor | Fernando Weller |
|
Resumo Expandido | A bibliografia de referência para a história do cinema documentário (Barnow, Barsam, Ellis e Winston, por exemplo) e as suas leituras no Brasil relegam a uma espécie de terceiro plano a produção de documentários canadenses nos anos 60 diante dos documentários da França e EUA na mesma época. Embora sempre reconheçam um papel pioneiro no desenvolvimento de técnicas de captação em som sincrônico e o no uso equipamentos 16mm no fim dos anos 50, a originalidade da produção canadense dos anos 60 em diante é pouco abordada. A ênfase se dá, quase sempre, em uma expertise técnica reconhecida na série Candid Eye e no caráter singular do suporte estatal do National Film Board.
Com frequência, os autores insistem em uma polarização, por vezes, simplificadora, entre os chamados Cinema Verdade francês e Cinema Direto estadunidense, baseados nos relatos do embate entre Jean Rouch e Richard Leacock no encontro de Lyon, na França, em 1963. Tal oposição supostamente radical atende ao espírito da crítica e aos ânimos exaltados da época. Marcorelles chega a falar na época em um “conflito de civilizações” (MARCORELLES, 1963) revelado no embate entre Rouch e Leacock, o que acabou por obscurecer as inúmeras pontes entre os dois grupos de produção e, principalmente, a presença de outros grupos igualmente relevantes em outros contextos nos quais o som sincrônico e os equipamentos leves foram adotados, inclusive em países do chamado Terceiro Mundo. Com os anos, tal oposição perdeu o sentido diante da generalização das técnicas do Direto no documentário no fim dos anos 60 e início dos 70. Até hoje, não há consenso em torno do uso dos termos Direto e Verdade. A cinematografia canadense, à sombra do gigante industrial estadunidense e do prestígio acadêmico e crítico francês teve, de fato, pouca penetração no contexto cinematográfico internacional, sobretudo, brasileiro. No entanto, sugerimos outras hipóteses para uma leitura parcial de tal cinematografia que dizem respeito a uma diversidade de estilos e abordagens do Direto canadense que o tornaria avesso aos rótulos ou dogmas associados aos outros dois polos. A produção canadense no período escapa às concepções artificialmente opostas de cinema observacional puro ou participativo puro, bem como os próprios limites entre as noções de documentário e ficção. Outro elemento que dificulta uma fácil classificação dos filmes diz respeito ao caráter bilíngue do país e as diferenças de estilo e contextos entre as produções francófonas e anglófonas. Nos anos 60, a província de Quebec viveu a chamada Revolução Tranquila. Com a chegada de Jean Lesage e o Parti Liberal du Quebec ao poder, a sociedade francófona canadense passou por profundas mudanças como a estatização das empresas de energia elétrica, a radical secularização do ensino público, a igualdade de direitos entre homens e mulheres e, ainda, a garantia do bi-linguismo no país. O Cinema Direto teve um papel fundamental no processo de mudanças, ao promover o que Pierre Perrault chama de “liberação da palavra” (GARNEAU, 2009) no cinema, através dos novos equipamentos de captação de som sincrônico empregados em um projeto identitário no documentário. Assim, pretendemos analisar as implicações do surgimento da tecnologia sincrônica em Quebec no contexto de transformações sociais, econômicas e culturais da Revolução Tranquila e entender a contribuição do documentário canadense no âmbito cinematográfico internacional. |
|
Bibliografia | GARNEAU, Michèle. Traversées de Pierre Perrault. Montréal: Fides Inc, 2009.
|