ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | O sertão utópico do cinema brasileiro contemporâneo |
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Autor | Marcelo Dídimo Souza Vieira |
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Resumo Expandido | O nordeste brasileiro sempre teve uma forte presença na nossa cultura, em todos os ramos da arte, e no cinema não poderia ser diferente. O sertão nordestino sempre foi palco e serviu de cenário de diversos filmes brasileiros. “A verdade é que não há região do Brasil que exceda o Nordeste em riqueza de tradições ilustres e nitidez de caráter”. (FREIRE, apud DEBS, 1996, p. 143)
A década de 1960 foi marcada por uma transição política no país. Essa década foi de extrema importância para o cinema brasileiro. Inconformados com a atual situação política do país e para se contrapor à indústria cinematográfica do período chanchadista e aos filmes da Vera Cruz, alguns cineastas eclodiram o movimento do Cinema Novo. Nesse período, os cineastas iniciaram uma campanha de advertência cultural para a realidade nordestina, e o sertão serviu de cenário para a primeira fase do Cinema Novo. Nessa primeira fase, o remoto e o ensolarado irão impregnar completamente o novo cinema brasileiro, tornando-se o universo ficcional de suas principais realizações. A terra distante e abrasadora, filmada de maneira primitiva, tendo como principais personagens seres humanos que vivem em condições precárias, mas são possuidores de uma cultura própria, vai se tornar a matéria-prima inspiradora da nova geração que surgia no Brasil. (RAMOS, 1987, p. 320) Ganga Zumba (Cacá Diégues, 1963), Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963), Os Fuzis (Ruy Guerra, 1964) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964) são os filmes desse período que retrataram o sertão nordestino com as características que marcaram o Cinema Novo. Essa temática ressurgiu na década de 1990 com a retomada do cinema brasileiro e, na virada do milênio, o cinema da pós-retomada também retratou o sertão nordestino de forma bastante peculiar. Os filmes realizados a partir do ano 2000 renovam um cinema que sempre transitou entre boas e más fases, no que diz respeito ao tripé produção, distribuição e exibição. Os altos e baixos desse novo período fica evidente nas bilheterias dos filmes nacionais e na constante invasão do mercado internacional nas salas de cinema. As temáticas trabalhadas nos filmes também são renovadas, e o sertão nordestino se faz novamente presente. A partir de 2005 seis produções, duas cearenses e quatro pernambucanas, ganharam destaque no Brasil e no exterior: Árido Movie (Lírio Ferreira, 2005); Cinema, Aspirinas e Urubus (Marcelo Gomes, 2005); O Céu de Suely (Karim Aïnouz, 2006); Baixio das Bestas (Cláudio Assis, 2007); Deserto Feliz (Paulo Caldas, 2007); e O Grão (Petrus Cariry, 2008). Além da presença do sertão nordestino como palco para suas histórias, esses filmes tem algumas características em comum. Os cineastas são nordestinos e os locais de produção situam-se na região nordeste, mais precisamente o sertão. Fugindo ao eixo Rio-São Paulo de forma mais contundente e democratizando cada vez mais as produções em todo o território nacional, essas produções fazem parte de uma série de filmes realizados com baixo orçamento. Estes filmes, cada um ao seu modo, procuram dar uma visão diferenciada sobre o sertão, contextualizando o desejo dos personagens em busca de uma vida melhor, utópica, e revelando os contrastes e diferenças que o nordeste possui com relação às outras regiões. A (e)(i)migração é uma possibilidade constante para a realização desse sonho, em meio a questionamentos, dúvidas, lembranças e desejos. O novo cinema nordestino revisita um sertão já trabalhado em outros filmes e consagrado em outras épocas. Deixando de lado mitos do imaginário popular como o cangaceiro, é perceptível a preocupação dos cineastas em retratar personagens com histórias de vida simples, com anseios, desejos, dificuldades e força de vontade que caracterizam essa brava gente nordestina. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Brasil em tempo de cinema. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1977.
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