ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A tela em delírio – a poética visual-cinética das montages sequences |
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Autor | Fernando Aparecido Ferreira |
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Resumo Expandido | Introduzidas no cinema hollywoodiano nos anos 1930 pelo sérvio Slavko Vorkapich, as montages foram sequências especiais, filmadas por uma equipe especializada, feitas para serem introduzidas em filmes narrativos convencionais, para funcionarem como indicativos visuais-cinéticos de mudanças temporais, psicológicas ou espaciais. Militando por um cinema “puro”, como o que era pregado pela vanguarda cinematográfica dos anos 1920, Vorkapich introduziu este vocabulário em Hollywood, utilizando as montages para experimentar a forma e a estética do cinema, criando momentos vigorosos, empregando efeitos ópticos e edição arrojada. Embora pouco conhecido nos dias atuais, Vorkapich foi um teórico e um criador influente em Hollywood, tendo sido responsável pela inserção de princípios do cinema moderno na indústria cinematográfica norte-americana. Suas teorias representam uma síntese do expressionismo alemão, do construtivismo russo e da avant-garde francesa, aliados à psicologia da percepção (Gestalt) e às descobertas visuais dos movimentos plásticos modernos (cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo). Ainda que tenha realizado alguns curtas experimentais, as montages foram o mais importante canal que Vorkapich encontrou para experimentar suas teorias. A prática do uso destas sequências em Hollywood se deu justamente no início do cinema falado, num momento no qual os intertítulos (cartelas de texto, típicas do cinema mudo) explicativos caíram em desuso e passaram a ser substituídos pelos então chamados transitional effects, que posteriormente passaram a ser conhecidos como montages. No modelo proposto por Vorkapich, as montages não eram apenas uma sequência informativa, mas um momento no qual os códigos do cinema se apresentavam ostensivamente, o que levou os produtores a também utilizá-las para dar valor cinematográfico às produções. De certa forma, elas funcionavam como um filme dentro do filme, uma sequência que, embora referente à narrativa, gozava de certa autonomia, podendo ser apreciada no seu discurso em si – assim como ocorre com os números musicais de Busby Berkeley, também feitos para narrativas hollywoodianas no mesmo período. A montage vorkapichiana passou a ser um estilo cinematográfico, uma espécie de poética visual-cinética, cujo fim não é necessariamente narrar, mas transmitir um conceito ou provocar uma sensação, um estado de espírito, estimulando nossos sentidos e nossa imaginação, através da exploração das possibilidades expressivas da linguagem cinematográfica. A técnica e a poética de Vorkapich foram seguidas por outros técnicos, como John Hoffmann, Peter Ballbusch, Frank Santillo e Don Siegel (antes deste se tornar diretor de longas de ficção). A partir dos anos 1940, as montages cairam em desuso e ficaram menos ostensivas, sendo simplificadas de modo a se integrarem mais às narrativas. Nas décadas seguintes, passaram a ser utilizadas somente como um pastiche, para evocar o cinema americano dos anos 1930. Neste processo de assimilação, diluição e auto-referência, a poética das montages acabou por ser recuperada e re-significada. Nos anos 1960 ela foi resgatada por designers gráficos que passaram a atuar na tv e no cinema, como Saul Bass (entre outros), que viram na abordagem proposta por Vorkapich um modelo de discurso cinematográfico rápido e expressivo, que poderia servir de parâmetro para elaboração de letreiros, filmes para exposições, vinhetas e comerciais de tv. Hoje esquecida, por estar associada a filmes da linha de produção hollywoodiana, nunca revistos pelos estudiosos, a singularidade da poética e da forma das montages sequences dos anos 1930 merece ser resgatada. Ela se apresenta como uma proposta de discurso e, ao mesmo tempo, como uma forma encontrada para dar vazão às descobertas de um cinema progressivo num segmento cinematográfico (ou numa cultura audiovisual) mais popular. |
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Bibliografia | ARNHEIM, Rudolf. A arte do cinema. Lisboa: Editorial Aster, s/d.
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