ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Imagem-som de Lou Reed em Schnabel e Warhol: lições para o live cinema |
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Autor | Wilson Oliveira da Silva Filho |
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Resumo Expandido | Seguindo um ensinamento vital para se compreender o que é a música nos filmes, a ideia de que “representar música no cinema é representar o que a música representa” (GOLDMARCH, 2007, p. 6), analisamos o papel de alguns dos sons de Lou Reed em sua carreira solo e com o The Velvet underground, de suas melodias, ruídos, de suas canções e distorções na obra de dois artistas bem diferentes como Andy Warhol e Julian Schnabel.
Como Marshall McLuhan nos lembra o conteúdo de um meio “aquilo que na verdade é outro meio” (MCLUHAN, 1964, p.23) é fator emblemático ao pensarmos que meio é o cinema. “Forma de expressão sem sintaxe” (MCLUHAN, 1964, p.322). Extensão da orquestra sinfônica, expressão do mecânico, provoca o teórico canadense. E é fator decisivo ao refletirmos a arte contemporânea que se funda cada vez mais na fusão entre linguagens, na remixagem de outras manifestações artísticas. A arte das imagens e sons em movimento passeia hoje por uma nova modalidade que se funde e se confunde com todas as artes, a reedição, a ressignificação, a remixagem imposta pelos vj’s. Explorado por Lawrence Lessig recentemente, o remix é fundamental para entendemos o trabalho do cinema ao vivo e nosso recorte que passeia pela obra de Reed como matriz e pelas leituras dos videomakers em questão. Lessig aponta que a cultura remix nos traz de volta a um ambiente de read and write (RW) no lugar do RO (read only). “Remix é um ato essencial de criatividade RW” (LESSIG, 2008, p.56). Se para pensar a distância que os telefones imprimem ao som, Schafer pensa o termo “esquizofonia” (SCHAFER, 2001, p.133), o trabalho do vj na cena contemporânea e as referências de Warhol e Schabel beiram uma “esquizofonia visual”. Algumas experiências e hipóteses como essas adaptações do trabalho de Lou Reed que antecedem a prática dos vj’s já pareciam apontar para uma boa confusão entre os sentidos, para o essencial embaralhamento entre música e imagem. Huyssen (2000), por exemplo, problematiza que precisaríamos já de arqueólogos de dados com a breve história dos computadores. Seriam os vj’s esses arqueólogos de imagens/sons em formato de dados, colecionadores e grandes criadores do audiovisual no contemporâneo refundando a problemática relação entre som e imagem que atravessa a história do cinema? Os trabalhos a partir da obra de Lou Reed apostam nessa ideia e antecedem o cinema ao vivo, trazendo o liveness das músicas de Reed. E diante do quadro que nos apresenta Arlindo Machado como fica a relação entre música e imagem? A grande questão hoje, depois de todos os choques e crises que acometeram não apenas a música, mas todas as formas canônicas de arte no final do século XX é saber se a exclusão da imagem é realmente um fato que diz respeito a uma natureza ou especificidade da música, ou apenas um interdito datado historicamente. (MACHADO, 2001, p.155) Se optarmos por essa natureza ou especificidade a que se refere Machado o trabalho dos vj’s e as versões que tentaremos analisar nos fornece novas possibilidades. Os vj’s atestam a provocação do cineasta Abel Gance, e tratam o cinema como música de luz. Warhol e Schanbel captam a essência do live cinema e traduzem Reed, cada uma a sua forma. As imagens tiradas do som, as cores feitas de notas, as canções não para embalar os filmes, mas para fazê-los. Essa imagem-som como queremos crer é essencial para se entender a cena ao vivo que invade a arte hoje. Influenciado por John Cage, Warhol dirigiu o filme e produziu o disco da banda de Lou Reed em parceria com a cantora Nico – que no filme não canta em nenhum momento. Em “The Velvet underground e Nico” não há projeções sobre a banda, mas pelos reflexos de alguns planos numa superfície atrás da performance uma centelha trabalho de vjing é identificada. Já “Berlim” é composto por imagens diversas projetadas atrás da banda. A ópera rock composta por Lou Reed é transformada por Schnabel em um espetáculo sensorial em que a própria banda por vezes parece se surpreender. |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2005.
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