ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Cinema de Exceção e a narrativa do 'resto' |
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Autor | André Queiroz |
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Resumo Expandido | O primado de que se parte é o de que vivemos sob a égide do intolerável. E isto como condição ao presente, como modus operandi no qual o que se promove é o esgotamento dos possíveis ao tanto do real - tal como este se apresenta. Pretendemos caracterizar a este intolerável nas formas do que Giorgio Agamben nos apresenta como Estado de Exceção. Qual seja este senão a condição de anomia jurídico-administrativa na que a lei -em suspensão- acaba por forjar espécie de vácuolo de ordem. Porém, aqui, se trata de vacúolo como máxima saturação das injunções políticas que caracterizam o pleno (e perfeito) funcionamento do Estado de direito. O que seria dizer: não a brecha na que se fizesse a condição mesma do resistir, mas a brecha na que se acrescenta aos modos da exceção os regimes da regra, do normativo. Este, um quadro ao intolerável de que falávamos há pouco. Também aí, como matéria do que se produz, o que percebemos é a condição do 'resto'. Agamben a pensar a máquina de guerra nazista. Agamben a pensar os modos de constituição do espaço biopolítico como paradigma do contemporâneo. Tempos de guerra, tempos de paz. No entanto, como emenda ao díspar destas condições, a produção do 'resto'. Vaso comunicante do poder que se faz à despeito da guerra e à despeito da paz. O 'resto' como um seu continuum a 'comunicar' ('emendar') a positividade do poder, e a um só tempo, noutro modo ao sentido, 'resto' como o incomunicável, como o aquilo/aquele que não dispõe de formas à expressão. Ao contrário disto, a expressão, a linguagem, os contornos do Si que desde aí se engendra seria o que se faz suprimido ao tanto da 'vida nua'. Nos termos de Agamben, a restrição da vida aos limites do biológico. Em Auschwitz, o 'resto' é o 'Muselmann' - aquele que já nada porta do Si mesmo, ele é a totalidade do que se lhe fizeram.
Trata-se de buscar ao contemporâneo este traço biopolíco do poder. Trata-se de pensar, a despeito disto, e na condição extremada a que isto se nos opera (condição limite na que se forja o absoluto do poder), os modos à resistência como recusa grave (gravíssima) e radical do estado de coisas. Recusa que se opera aos modos do acontecimento - qual seja este: a irrupção do não-sentido às largas cadeias da razão instrumental (Foucault). Produzir uma fenda no tempo. Porém, e sobretudo, aqui se trata de buscar a esta condição insurgente desde as massas e ao pensamento que nela se opera. Pensamento radical porque pensamento a operar desde a desinscrição, e na direção desta, a aprofundá-la como condição mesma de uma, quem sabe, reversão ao intolerável. Nossa proposta sugere que é este o espaço (sem lugar, sem topos) no que se constrói o cinema de Vladimir Seixas - cinema de exceção em que a exceção é voltada contra ela própria porque se trataria de fazer falar o que não tem a fala, porque se trataria de operar aos escombros alguma edificação. Cinema que dobrasse em resposta e problema a questão enunciada por Foucault: Será inútil revoltar-se? |
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Bibliografia | 1) Agamben, G. (1998) O Que resta de Auschwitz - o arquivo e a testemunha. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008;
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