ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A trajetória econômica de Francisco Serrador: uma análise crítica |
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Autor | Julio Lucchesi Moraes |
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Resumo Expandido | O presente texto empreenderá uma análise crítica a respeito da trajetória biográfica e econômica do empresário espanhol Francisco Serrador. Nascido em Valência no ano de 1872, o imigrante chegou ao porto de Santos em 1887, instalando-se em seguida na cidade de Curitiba. Lá, iniciou atividades no ramo de diversões e entretenimento adquirindo, em 1904, um projetor cinematográfico Richembour. Três anos depois, seria o responsável pela instalação da primeira sala de cinema fixa da cidade de São Paulo, o Bijou-Theatre. Ao que tudo indica, o mercado paulista permitiu-lhe uma inédita capitalização. Foi, contudo, na condição de diretor da Companhia Cinematográfica Brasileira (CCB), que o espanhol faria seus maiores avanços ao longo da década de 1910 conseguindo instalar-se na praça carioca.
Se a Grande Guerra representa um momento de potencialidades para Serrador, é também uma fase de grandes mudanças do setor cinematográfico mundial e local. Através de fusões e acordos com parceiros locais e estrangeiros, mas também de grandes disputas e desavenças, o valenciano chegou à década de 1920 como a figura central do setor exibidor brasileiro. Sobretudo na Capital Federal, após a criação de seu quarteirão de entretenimento, a Cinelândia, seu sucesso como empresário do setor cinematográfico é inquestionável. Assim, suas salas e palácios cinematográficos gozarão de franca dominância sobre o público, pelo menos até a década de 1940. Em que medida nosso artigo buscará problematizar essa narrativa, trazendo novas questões e problemas? Sem embargo, queremos crer que uma análise crítica da trajetória econômica de Serrador articula-se ao desenvolvimento de uma discussão historiográfica mais ampla: objetivamos aqui trazer inéditas contribuições à assim chamada História social do cinema brasileiro, destacando o papel fundamental desempenhado pelo empresário Serrador dentro de tal trama. A opção por nós adotada foi a de balizar nossas análises dentro de uma abordagem estritamente econômica. Buscaremos, para tanto, trabalhar com fontes pouco utilizadas pelos historiadores da área, tais como as informações oriundas de cartas comerciais trocadas por Serrador e seus contatos dentro e fora do país, a apresentação de balanços e relatórios contábeis de suas empresas etc. Parte significativa desse material origina-se de levantamento feito no Acervo Família Ferrez, fundo atualmente custodiado pelo Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. As inéditas etapas de análise e tabulação de tais dados inserem-se no bojo de pesquisa de doutoramento atualmente em curso junto ao Departamento de História Econômica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), com apoio da FAPESP e orientação do Prof. Dr. José Flávio Motta. Outrossim, o artigo dá continuidade a uma série de reflexões realizadas a partir dessa mesma base de dados, figurando como um desdobramento de textos anteriores, como o trabalho “As articulações econômicas dos cinemas brasileiros através da documentação do Arquivo Família Ferrez”, apresentado em agosto de 2010 na Cinemateca Brasileira, por motivo da IV Jornada do Cinema Silencioso. Nesse sentido, daremos, ao longo de nossa análise, franco destaque ao momento final da década de 1910: (i) primeiramente, por dispormos de um inédito elenco de fontes primárias sobre o período; (ii) em segundo lugar, por julgarmos que de todas as etapas da biografia de Serrador já analisadas pela bibliografia especializada, o período segue sendo o menos estudado; (iii) por fim, por julgarmos que o refeirdo período configura-se efetivamente como um momento de inflexão tanto na trajetória do próprio empresário quanto na História do Cinema, sobretudo pela passagem da dominação européia sobre o setor cinematográfico em detrimento da produção norte-americana. Como veremos, Serrador articulou-se a essa mudança, figurando como uma espécie de intermediador local para o sucesso dessa inflexão no país. |
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Bibliografia | - ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, circos e cinemas de São Paulo. São Paulo: Editora
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