ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Por uma perspectiva narrativa da autoria no cinema: duas análises |
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Autor | Ana Camila de Souza Esteves |
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Resumo Expandido | Em capítulo dedicado ao que chama de “cinema de arte e ensaio”, David Bordwell, em seu livro Narration in Fiction Film (1985), fala sobre a narrativa do que chama filme de arte, narrativa que o autor opõe ao do cinema americano (narrativa clássica). O principal argumento de Bordwell está no fato de que os filmes de arte tem narrativas nas quais os diversos elementos e recursos cinematográficos são usados de modo marcadamente diferente dos filmes de narrativa clássica – os filmes de arte têm, em geral, uma narrativa autoconsciente. Os recursos como montagem, fotografia, escala de planos, etc., chamam atenção para si, para além de contarem uma história de personagens ambíguos, com começo, meio e fim que não se apresentam de forma muito clara ou muito óbvia, entre outras coisas.
Ao tratar deste assunto, Bordwell insinua que os filmes considerados autorais pelos críticos da Cahiers du Cinema, nos anos 1950, eram essencialmente filmes de narrativa de arte, com as características mencionadas no artigo. O que Bordwell propõe é que, diferente dos Jovens Turcos, os críticos de cinema busquem analisar os filmes a partir das estruturas de suas narrativas, essencialmente diferentes da narrativa clássica, e não somente a partir da busca por recorrências estilísticas. Filmes de narrativa clássica também podem ser identificados como filmes de um autor (vide os muitos exemplos analisados pelos Jovens Turcos), mas o que Bordwell propõe é que muitos dos filmes considerados autorais até hoje têm semelhanças narrativas entre si e divergentes do modelo clássico. Por um lado isso nos revela algo sobre uma possível mudança de perspectiva do cinema autoral. Não se trata mais tanto de falar de cineastas autores, mas de filmes autorais, que assim são identificados por sua narrativa autoconsciente, que revela ao espectador a instância narradora, os recursos estratégicos da mostração e narração da história. Enquanto os filmes de narrativa clássica trabalham no sentido de não revelar essa consciência do processo narrativo, os “filmes de arte” fazem justo o contrário, e para Bordwell isso é uma pista de como estes filmes podem ser vistos como filmes autorais. Eles revelam um autor por trás da narrativa. Consideramos, portanto, não o autor enquanto instância “pessoal”, da personalidade, mas enquanto instância da narrativa. Dois filmes espanhóis contemporâneos nos ajudam a compreender de que modo a instância autoral engendra seus discursos dentro da narrativa, mostrando-se ao espectador, revelando-se, construindo a autoconsciência da qual Bordwell fala: Lucía y el Sexo (2001), de Julio Medem, e La Soledad (2007), de Jaime Rosales. Propomos uma análise da narrativa destes dois filmes, a fim de buscar um caminho de análise que pense a autoria no cinema para além das recorrências estilísticas da obra de um determinado diretor, partindo do pressuposto de que a instância autoral pode manifestar-se dentro do próprio filme e de sua estrutura narrativa interna. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. O Autor no Cinema, São Paulo: Brasiliense, 1994.
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