ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Vídeos de família analógicos: a produção doméstica pré-YouTube |
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Autor | Lígia Azevedo Diogo |
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Resumo Expandido | Desde 2005, o Youtube tem despertado calorosos debates teóricos e mercadológicos, especialmente no que tange aos novos regimes de produção, distribuição e consumo de vídeos amadores. Analisar a produção audiovisual doméstica anterior ao Youtube nos parece fundamental para que alguns dos aspectos mais relevantes dessas discussões possam ser aprofundados. Essa é, precisamente, a proposta desse trabalho.
Dessa maneira, o objeto central aqui são os vídeos de família analógicos: imagens íntimas em movimento, acompanhadas de som e inscritas em fitas magnéticas. Esses registros foram produzidos e armazenados por um grande número de famílias de diversos países do mundo, desde o final dos anos 1970 e até pouco tempo atrás. As câmeras e os vídeo-cassetes, que captavam e reproduziam diversos formatos de vídeo analógico, conseguiram grande sucesso de vendas desde que chegaram ao mercado. Além dos consumidores com interesses artísticos, educativos ou políticos, muitas famílias de classe média adquiriram suas próprias câmeras para registrar cenas da vida privada. Tanto as grandes festas e eventos familiares, como também as situações corriqueiras do dia-a-dia, podiam ser alvo dessas gravações. Os resultados dessas filmagens, fossem realizadas por membros das famílias ou por pessoas contratadas especialmente, formaram um grupo grande e heterogêneo de obras que foram sendo arquivadas nas casas dessas famílias. Algumas características técnicas do vídeo analógico residem na base dessa sua popularização como utensílio doméstico, tais como o fato de registrarem som e imagem de modo simultâneo. Graças a essa tecnologia, mais do que a qualquer outra anterior, muitos sujeitos abandonaram sua posição de meros espectadores de produtos audiovisuais alheios para assumirem o posto ora de cinegrafista, com a câmera nas mãos, ora de ator, fazendo o papel de si mesmos na tela. A novidade contribuiu para transformar, também, a maneira em que os sujeitos se comportavam diante das câmeras. Ver e ouvir os próprios parentes na tela do televisor, assim como saber-se mirado pela câmera, mesmo que fosse para exibições que atingiriam um público pouco numeroso, suscitou o surgimento de todo um leque de novos modos de identificação com o audiovisual. No entanto, apesar de sua singular influência nos “modos de ser”, esses vídeos fazem parte de um conjunto de produções audiovisuais que raramente se tornou alvo de críticas especializadas ou estudos acadêmicos. De fato, nunca foi preciso ser um estudioso das teorias da comunicação, ou mesmo da estética ou da linguagem audiovisual, para estar apto a realizar, protagonizar ou apreciar essas obras. Qualquer um que tivesse acesso a uma câmera de vídeo podia produzi-las, assim como qualquer pessoa podia ser um personagem ou mesmo estrelar uma dessas fitas. Contudo, essa distância que a maioria dos realizadores desses vídeos mantém com relação a qualquer “profissionalismo” não é suficiente para explicar o afastamento com que o campo das comunicações e, mais especificamente, o campo dos estudos audiovisuais, posicionam-se em relação a tal produção. Em virtude disso, o nosso primeiro objetivo é tratar de um tipo de produção que talvez logo desapareça sem deixar vestígios. Ressuscitar esses registros mofados e desbotados, extraí-los dos baús dos lares que ainda habitam, poderia ser considerado um ato de resgate louvável, mas o que existe de mais intrigante nesse material é uma questão. Por que foram gravadas tantas horas de imagens e sons, que captavam pessoas, momentos e lembranças, se raramente essas famílias assistiam às fitas? Ou, mais precisamente: por que motivo, nesse circuito específico de comunicação, guardar parecia ser mais importante do que mostrar? Refletir sobre isso se torna ainda mais relevante no contexto do enorme fluxo de material audiovisual que se tornou parte da vida contemporânea com o desenvolvimento das mídias digitais, a popularização dos usos da internet e o avassalador sucesso do YouTube. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Candido José Mendes de. O que é vídeo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.
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