ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | In between: entre arte e cinema, entre lembrança e esquecimento |
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Autor | NINA VELASCO E CRUZ |
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Resumo Expandido | Há alguns anos vários autores vêm identificando na sociedade contemporânea um fenômeno cultural caracterizado por uma obsessão pelo tema da memória, chamado por alguns de “cultura da memória” (HUYSSEN, 2000; SARLO, 2007; LE GOFF, 2008). Dois processos concomitantes caracterizam esse movimento: por um lado uma sensação de amnésia generalizada, promovida pela aceleração das informações dos meios de comunicação de massa, por outro haveria uma intensificação no consumo de tudo que possui a aura de um passado nostálgico, como testemunham a moda vintage, a restauração e revitalização de centros históricos, o sucesso do gênero bibliográfico, o crescimento na produção de filmes documentários, além das estratégias de rememoração criadas com as ferramentas digitais (blogs, fotologs, youtube, etc).
O cinema não escapa desse fenômeno, seja através do uso direto do tema da memória para a construção de roteiros ficcionais (Total Recall, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, The Final Cut – A última memória; Memento; etc), seja através do já citado aumento da produção de filmes documentais, especialmente com temática subjetiva memorialística (Passaporte Húngaro, 33, Santiago, por exemplo). No campo da arte contemporânea esse tema também aparece com veemência, como testemunham as obras de diversos artistas, como Boltanski, Rennó, Opalka, entre outros. Pretendemos, no entanto, nos deter em três trabalhos audiovisuais que se colocam na fronteira entre Arte e Cinema e que problematizam a relação entre imagem em movimento e memória, cada um a sua maneira. Em Tourist of Memory (2010), a cineasta canadense Penny McCann reúne seqüências produzidas em suportes diferentes (super-8, 16mm e vídeo) intercala imagens das cataratas de Niágara, de uma tempestade em Ottawa e da casa onde passou sua infância. Parte do projeto In Between (Remembering and Rorgetting), composto de várias peças audiovisuais em torno da questão da memória, Tourist of Memory nos remete ao repertório imagético da artista, ao mesmo tempo nos colocando como turistas da memória alheia. O uso de suportes supostamente ultrapassados torna incerta a origem temporal das imagens. O fluxo da água na catarata, a neve que cai e os moinhos de vento que giram nos remetem a circularidade do tempo. A instalação “O tempo não recuperado” de Lucas Bambozzi (2008) apresenta uma narrativa não-linear e interativa a partir de imagens do acervo pessoal do artista produzidas durante 15 anos em diversos suportes e com propósitos variados. O projeto foi produzido em dois formatos: um DVD desenvolvido através do korsakow-system criado pela University of Arts de Berlim para elaboração de narrativas não-lineares e uma videoinstalação para cinco projetores de vídeo. As sequências, nas palavras de Bambozzi: “constituem registros fragmentados de uma memória fugidia e dispersa e compõem no conjunto um retrato extensivo e aberto do autor ao longo do tempo”. Em sua grande maioria, as imagens apresentadas por Bambozzi não representam os momentos excepcionais que costumam constituir a prática turista comum, ou da prática doméstica do vídeo-amador, que privilegia os momentos memoráveis. O projeto “Aujourd´hui” da artista canadense Claire Savoie é composto por uma série de vídeos produzidos diariamente desde 2006 pela artista. A proposta é produzir um vídeo por dia, compondo um diário visual íntimo que reflete seu cotidiano e o tempo que passa. Através do uso de intertítulos (sempre apresentando a data e a hora que a imagem foi produzida, mas também criando frases e diálogos), os vídeos criam uma espécie de poema visual. Nesse caso, a busca para conter a velocidade do fluxo do tempo se dá através da necessidade de se registrar o sentimento de cada dia através da produção de uma síntese imagética audiovisual. Ao nos determos nesses três exemplos, constatamos que o tempo que não pode ser recuperado é confrontado pelo projeto de se capturar o instante presente, o tempo de hoje. Somos todos turistas da memória. |
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Bibliografia | DJICK, Jose van. Mediated memories in the digital age. Stanford: Stanford University Press, 2007.
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