ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Espaço canavieiro e retórica da paisagem no cinema brasileiro contemporâneo |
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Autor | Caio Augusto Amorim Maciel |
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Resumo Expandido | Na geografia atual o uso do cinema para estudos de representações regionais tornou-se importante meio para compreensão da espacialidade da cultura. O cinema deixou de ser apenas recurso didático, passando a prática social em relação ao espaço. A especificidade da análise geográfica reside em aplicar à ideia de paisagem as habilidades interpretativas exploradas no estudo dos filmes como expressão de camadas de significados sociais. Profissionais voltados ao ensino, como Pontuschka (2007), apontam a necessidade da apropriação da linguagem cinematográfica por parte dos geógrafos, ressaltando seu alcance pedagógico. Tal enfoque permanece valioso, embora se deva enfatizar que a proposta de análise das relações entre paisagem geográfica e cinematográfica seja imprescindível como etapa anterior aos usos didáticos do audiovisual, sob pena de estarmos reproduzindo interpretações de segunda mão sobre o objeto de interesse geográfico: a batalha de argumentos subjacente a cada representação da paisagem. Na geografia cultural, as representações espaciais e seus significados têm tido um importante destaque, donde o cinema vem encontrando terreno fértil. Estudos acadêmicos sobre o cinema têm sido realizados sob o enfoque estético ou das teorias literárias.
Na presente proposta o cinema é antes considerado na perspectiva de interpretação do espaço socialmente construído (BARBOSA, 2000, p.69). Compreende-se a produção, o consumo e significados advindos dos filmes como inerentes ao estudo da própria cultura (TURNER, 1997), buscando-se identificar quais valores as produções cinematográficas utilizam para representar as regiões. O Nordeste brasileiro tem sido o background de uma larga produção audiovisual que, além de fruição estética, é caudatária de simbologias nacionais, evocando quase sempre a ideia de sertão (MACIEL; MAIA FILHO, 2007). Uma das únicas obras do “período da retomada” do cinema nacional em que aparece o Nordeste Agrário do Litoral é Baixio das Bestas. A emergência dessa releitura fílmica de uma região erigida em monumento literário por autores como José Lins do Rego exige uma análise detalhada da interpretação da sua identidade territorial. Trata-se de uma área que é tão estudada pela sociologia rural e a geografia que o fato de ter permanecido subrepresentada cinematograficamente é indício suficiente para considerarmos a importância do tema. Assis agradece a outro diretor, Walter Lima Júnior, a inspiração advinda da filmagem de Menino de Engenho, da obra homônima de Rego, longa-metragem de 1965. Um lapso de quarenta anos entre as duas produções. Mas, como reconhece Dabat (2007), a qualidade de matriz da obra de Rego implica em que os seus romances sirvam de referência para qualquer evocação posterior da zona canavieira. A relevância do contexto literário e da explícita relação que Assis faz questão de creditar ao filme de Lima Jr. estimula-nos a empreender uma comparação entre as obras referentes à plantation, abarcando as camadas de significados desses e de outros filmes e sua intertextualidade com a literatura do ciclo da cana. Pode-se refletir acerca da natureza das relações que se estabelecem entre o homem e uma paisagem agrícola marcadamente vazia, submetida ao domínio do “agronegócio”. O traço predominante da história dessa região é a permanência, destacando-se o monopólio das terras por poucas famílias, a monocultura e o sistema de exploração do trabalho. Pode-se aventar que esses aspectos da formação do Nordeste marcam o gênio do lugar e as relações entre homem e paisagem. Em conseqüência, tratar-se-ia de um espaço com caracteres de região cultural marcada pela violência, inclusive com a animalização dos trabalhadores. O filme expressa essa atmosfera histórico-geográfica até no título. A tese aqui defendida é a de que o painel regional traçado pelo diretor reflete condições culturais derivadas do sistema de plantação, como propõe Sidney Mintz (2003). |
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Bibliografia | BARBOSA. Jorge Luiz. A arte de representar como reconhecimento do mundo: o espaço geográfico, o cinema e o imaginário social. In: GEOGRAPHIA, Niterói: UFF/EGG,2000.
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