ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Os anjos da estória em Glauber Rocha |
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Autor | Bruno Fabri Carneiro Valadão |
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Resumo Expandido | Os filmes Deus e o diabo na terra do sol (1964) e Terra em transe (1967) são fatos cinematográficos atravessados pelos mais diversos elementos: sons, imagens e palavras (ditas e escritas) que se entrelaçam formando um torvelinho que buscam (re)contar a história e a política brasileiras (e da América Latina), analisando estes elementos e re-ordenando-os de maneira barroca, ou seja, muito distante do naturalismo (inspirado principalmente pela chamada Geração de 30 na literatura) que marcou boa parte dos filmes do Cinema novo.
No decorrer de nossa comunicação buscaremos, nos traços da escrita fílmica e textual desses filmes, os elementos que nos dizem sobre a política, a história, o amor, a poesia e a possibilidade de revolução num tempo de aguda crise política no Brasil e na América Latina (em nosso contexto, período compreendido entre o Golpe de abril 64 até a imposição do AI-5 em dezembro de 1968), mas mostradas de outra forma nesses filmes. Por extensão, este se pretende um trabalho que justificará a atualidade da filmografia glaberiana em nossos dias, sua re-atualização permanente nos âmbitos histórico, político e, mais especificamente, no âmbito artístico. Essa constante renovação reside justamente numa proposição pouco comum: o que entendemos como um apelo revolucionário que permanece apoiado na noção de história – assumidamente barroca – em Walter Benjamin, pois esta admite o contraponto e a contradição como modo de operar as imagens, as narrativas e os fragmentos materiais. Nossa proposta de comunicação a ser apresentada, reside na idéia de que a obra de Glauber refaz os aspectos mais lancinantes e problemáticos da história. No interior mesmo da dramaturgia glauberiana, os “arquétipos” dessa história são representados através de uma trama que conduz a uma mise-en-scéne complexa,“moderna” (no contexto do cinema e se espraiando pelas artes cênicas). E no interior dessa rica dramaturgia barroca, destacamos o que chamamos de “anjos da estória”: são personagens que – assim como o “anjo da história”, enunciado pela primeira vez na “tese IX” das “Teses sobre o conceito de história” (1939) de Walter Benjamin – agem a contrapelo das ações no interior do filme. O termo “estória” ao invés de “história” é – em nosso contexto – um importante indicativo da potência da ficção glauberiana para a representação das contradições presentes na vida social brasileira e latino-americana que são remontadas por estes filmes através do que entendemos como um intenso páthoshistoriográfico de Glauber Rocha. Esse páthos émarcado fortementepelo que entendemos como o“contraponto barroco”, ou seja a aceitação integral da contradição no coração mesmo das narrativas (históricas e “estóricas”). Nesses filmes, as personagens Rosa (Deus e o diabo na terra do sol) e Sara (Terra em transe) são caracteres que guardam uma espécie de reserva de coerência e de sensibilidade humanística em pleno transe de corpos e de sensações (e também de natureza política e social) que esses dois filmes representam de maneira violenta. Em nosso trabalho, usaremos como base teórica – além de obras do pensador alemão Walter Benjamin (1984 e 2005) no tocante à historiografia e ao drama barrocos – reflexões sobre o drama moderno (SZONDI, 2001) e uma breve incursão sobre a presença dos anjos na cultura judaico-cristãinspirado pelos ensaios de Massimo Cacciari (1989) e pelo livro organizado por Giorgio Agamben e E. Coccia (2009). Além, claro, dasreflexões teóricas do próprio Glauber Rocha (2004) que nos ajudará a jogar luz sobre a hipótese que formula a nossa comunicação. |
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Bibliografia | AGAMBEN, G.; COCCIA, E. (a cura di). Angeli. Ebraismo, Cristianesimo, Islam. Vicenza: Neri Pozza, 2009.
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