ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Recepção crítica de Fernando Meirelles |
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Autor | Luiz Antonio Mousinho |
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Resumo Expandido | Nossa intenção é rastrear algumas linhas-de-força dos textos publicados em sites sobre a obra de Fernando Meirelles, procurando identificar suas filiações estéticas e de outras ordens. Ao mesmo tempo, pretende-se atentar para a presença de aspectos analíticos e judicativos recorrentes em correlação com a leitura da obra. Tratando de um diretor cuja elaboração de linguagem vem ao lado de um declarado interesse de comunicação com o grande público, tal viés parece esbarrar numa recepção crítica que valoriza construções discursivas firmadas em gestos de contra-comunicação, de viés modernista (PUCCI JR, 2008; MASCARELLO, 2006). Tal perspectiva parece indicar um debruçar-se criticamente sobre obras de cinema narrativo com um olhar que prevê antecipadamente um déficit estético. Nossa abordagem partirá do pressuposto do cinema narrativo como uma possibilidade entre outras, recusando-se o a priori do déficit estético e afirmando-o como “espaço (...) de algumas vivências que não são menos fundamentais por serem ambíguas” (MARTIN-BARBERO). Evitando, portanto, a filiação à falsa dicotomia entre uma arte comunicativa e alienada e uma arte modernista difícil (STAM, 2003). Ou mesmo rejeitando a impropriedade e improdutividade de se colocar em contraste uma arte voltada apenas para a reflexão e outra para o consumo (JAUSS, 1979).
Por outro lado, a identificação de impasses ideológicos apontados pela crítica em obras como a de Meirelles parece também estar fundada numa confusão entre autoria e instância narrativa, ou mesmo entre instância narrativa e regime de focalização das obras (GENETTE, s/d), percepção que buscaremos aprofundar. Outro dado a ser pensado é a recorrente crítica negativa relacionada à velocidade narrativa dos filmes do diretor, sem uma argumentação que esclareça teoricamente o que esse fenômeno narrativo traria de empecilho à reflexão crítica do espectador. O mesmo quanto ao gênero cômico, cujo uso é apontado como detrator identitário (no filme Domésticas), sem que se apanhe a possibilidade reveladora e subvertora do riso (BAKHTIN, 1987) Nos textos do corpus percebe-se também certo retrocesso à análise biografista, nas várias referências à origem profissional e de classe do cineasta, como se essa origem fosse um condicionante inexorável ou a priori digna de suspeita -- e a classe média o árbitro ideal para a questão. Mesmo levando-se em conta o peso histórico das classes médias nos movimentos, culturais, contra-culturais e políticos brasileiros (RIDENTI, 2000), valeria refletir se não se estaria até inconscientemente advogando uma exclusividade na sondagem artística da alteridade, nas representações da pobreza, o que se refletiria em expressões e alusões irônico-jocosas à origem de classe de cineastas como Fernando Meirelles, João Moreira e Walter Salles. O que pode levar nossa discussão a refletir sobre aspectos relativos às relações entre criação artística, crítica e ideologia (CANDIDO, 2000; EAGLETON, 1997). Colocamos aqui a posição de uma abordagem que se faz num movimento de empatia com a filmografia estudada, abordagem posta a analisar um corpus crítico que em parte rejeita as linhas gerais desta mesma filmografia. Porém nossa reflexão buscará estar atenta à importância de reflexões da crítica jornalística por sua inquietação e envolvimento nas discussões acerca da pregnância estética de várias filmografias e sua capacidade de contextualização no debate contemporâneo. Procuraremos então apontar ao mesmo tempo como esta crítica é capaz de trazer “as bases mínimas para a expressão do gosto”, além de “apreciar e compreender suas manifestações, independente de se concordar ou não com o crítico”, para falarmos com José Luiz Braga (BRAGA, 2006). Nosso trabalho procurará dar um pouco da qualidade do necessário e fundamental vôo instantâneo e de coragem judicativa da crítica jornalística tentando pensar, com esta, aspectos da obra de Fernando Meirelles e do audiovisual brasileiro contemporâneo. |
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Bibliografia | BAKHTIN, M.. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo: Hucitec; Brasília, EdUNB, 1987.
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