ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Mulheres na estrada: sexo, road movies e horizontes perdidos |
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Autor | João Luiz Vieira |
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Resumo Expandido | Tradicionalmente relacionado ao cinema norte-americano, da mesma forma que uma certa literatura de viagem é vista como um produto resultante do expansionismo colonial europeu, os road movies podem ser (re)vistos como textos emblemáticos de paisagens as mais diversas, espaços quase infinitos de narrativas que dramatizam sociedades em movimento e ritos de passagem. Não importa se estamos nas áridas estradas de terra de Vinhas da ira (1940), de Ford, ou em caminhos mais próximos, como os percorridos pelos marginais de Sem destino (1967), ou as personagens de Paris, Texas (1984) e Coração Selvagem (1990), de David Lynch, ou, ainda de Pequena Miss Sunshine (2006)de Jonathan Dayton e Valerie Feris. No cinema latinoamericano, o gênero tem oferecido insuspeitadas leituras alegóricas através de realizadores e países tão diversos quanto, só para citar alguns pouco exemplos, A viagem (1992), de Fernando Solanas, Jorge, um brasileiro (1988), de Paulo Thiago, Família rodante (2004), de Pablo Trapero, Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009), de Karim Aïnouz. O presente texto e pesquisa pretendem retornar ao formato do filme de estrada, ampliando sua vocação genérica a partir de releitura de dois clássicos do cinema brasileiro moderno, Iracema, uma transa amazônica (1974), de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, A opção (1981), de Ozualdo Candeias e o mais recente Anjos do sol (2006), primeiro longa de Rudi Lageman. Nos três, por comparação e contraste, fica evidente a centralidade da figura feminina como suporte textual para a representação e questionamento de alguns aspectos definidores da complexidade sócio-econômica cultural que, de forma inescapável, relaciona corpo e nação, corpo e paisagem, corpo e imagem. Estilisticamente nos três filmes analisados, encontramos ainda uma tensão que superpõe e confunde narrativas ficcionais e documentais, traços do Cinema Novo atualizados em chave melodramática que, de certa forma, dão conta de mudanças históricas e estéticas ocorridas no cinema brasileiro nas últimas quatro décadas (1974-2008). Seguindo passos inaugurados por Paul Ricoeur na relação entre tempo e narrativa, o texto objetiva a leitura comparativa entre os três filmes citados partindo das conexões entre sequencias e cenas-chave que sintetizem práticas simbólicas, institucionais e materiais conectando diferentes causalidades, temporalidades e espaços. Ênfase será dada nos dois primeiros filmes (Iracema e A opção) ao pioneirismo do tratamento semi-documental e as possibilidades de interação entra linguagens então ainda consideradas como linguagens opostas, territórios contrastantes que décadas depois marcariam uma renovação do documentário no Brasil. Já Anjos do sol exibe uma herança bem mais definida por um padrão narrativo melodramático em chave televisiva. Os três textos fílmicos nos ajudam a traçar uma espécie de mapa imaginário de auto-descoberta de si e do país. A exemplo de um outro enviesado road movie (Cronicamente inviável, de Sérgio Bianchi), tal mapa compreende uma vastidão geográfica que cobre desde as profundezas da região amazônica, às áreas costeiras do nordeste, ao interior das estradas paulistas, chegando às calçadas e areias de Copacabana. Metrópolises reais ou imaginadas, viagens sem fim, abertas, inconclusivas. Um mapa que também confunde e embaralha diferenças entre centros e periferias. |
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Bibliografia | Clifford, James, Routes, Travel and Translation in the late XX Century (Cambridge, London: Harvard University Press, 1997).
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