ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | No espelho das cartas |
|
Autor | Pedro Plaza Pinto |
|
Resumo Expandido | Ao escrever sobre Paulo Emilio, Glauber Rocha produz, em Revolução do Cinema Novo, um salto no tempo. Cita o final dos anos 1970 e o princípio da década anterior, mencionando de passagem os conceitos do texto-síntese Cinema: trajetória no subdesenvolvimento, do final de 1973, mas omitindo a reaproximação com Paulo Emilio, do ano seguinte, quando ambos trocaram cartas e o crítico trabalhou com Raquel Gerber na organização do livro Glauber Rocha, do qual consta a apresentação escrita por Paulo Emilio.
As cartas desse momento indicam uma atenção particular, uma proximidade gerada pelo projeto de livro, pela recolha de filmes do cineasta e pelo clima de delações e perseguições do contexto. Estamos em outro período da vida brasileira, sob as malhas da Ditadura Militar instaurada há dez anos, já após o endurecimento de 1968. Momento de reconciliação, como reconhece o ainda exilado cineasta em cartas enviadas a amigos mais próximos. O matiz da relação rearticulada, intermediada por Raquel Gerber, faz Glauber repor a importância de Paulo Emilio para as suas teorizações e traz à tona outro momento de proximidade, também de troca de cartas, de 1960 a 1962. Glauber e Paulo Emilio se referem ao contexto de Barravento, da I Convenção da Crítica e da passagem do crítico pela Bahia. Em especial, a carta de Glauber escrita de Roma, de agosto de 1974, é uma espécie de ressolidarização que justifica a dedicatória inserida no começo de O Leão de sete cabeças (1970), feita ao crítico, e mencionada na missiva: “Pena que você ainda não conheça o Leão. Se eu ganhar um dinheirinho aqui lhe mando de presente uma cópia 16 mm. É o melhor presente que eu poderia lhe dar, o meu inconsciente determinou que o filme seria dedicado a você.” (ROCHA, 1997, p. 498). Tendo com o base este marco temporal, considerando o arco da relação crítica, abordaremos o problema do diálogo entre crítico e realizador com uma pequena retomada do momento anterior ao livro, quando se discutiu uma possível colaboração em um projeto de filme, além de vermos um jovem Glauber Rocha explicando seu filme Barravento e confessando sua admiração. A primeira missiva localizada é uma resposta à provável convocatória feita por Paulo Emilio para a I Convenção da Crítica, realizada em novembro de 1960. A carta foi datada do dia 2 de novembro daquele ano, constituindo-se um documento crucial para se entender o respeito, admiração e o acanhamento gerado pelo grande crítico no jovem crítico a caminho de se tornar cineasta. O assunto principal é justamente o informe de Glauber Rocha de que assumira a direção de Barravento após um “bafafá sentimental” entre o diretor anterior, Luiz Paulino, e uma atriz. Além disso, delineia as figuras que estavam sendo fundamentais para o seu filme ou para a animação de projetos de filme na Bahia – Roberto Pires, Rex Schinder, Trigueirinho Neto. “Sobre esta última figura, eis um protótipo de cineasta, pedra bruta que deveria conviver com você intensas 24 horas. Infelizmente, quando estivemos juntos da última vez na Cinemateca, não foi possível encontrá-lo.” (ROCHA, 1997, p. 125) Glauber travara seu primeiro contato com Paulo Emilio no ano anterior, durante a mostra de filmes clássicos alemães da Semana da Cultura Cinematográfica. O curto convívio e o conhecimento de Gustavo Dahl e de Jean-Claude Bernardet devem ter feito avultar ainda mais a figura de Paulo Emilio, já reconhecido titular da seção de cinema do Suplemento Literário, o maior entendedor de cinema no Brasil. |
|
Bibliografia | COSTA, Flávio Moreira da (org.). Cinema moderno, cinema novo. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1966.
|