ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | A vida é alheia, mas os efeitos da cultura industrializada são nossos |
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Autor | Dilma Beatriz Rocha Juliano |
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Resumo Expandido | O conceito de “indústria cultural”, enunciado por Adorno e Horkheimer (1985) em 1947, serviu, inicialmente, para apontar o processo de mercadorização pelo qual passava a cultura, desde o iluminismo. Para eles, indústria cultural designava a produção cultural, artística e intelectual apropriada pelos processos maquínicos e colocada à disposição do consumo com a mesma lógica aplicada a todas as mercadorias industrialmente fabricadas, principalmente no sentido do descontínuo, da fragmentação e da possibilidade de reprodução.
Desde que sistematizado e enunciado, o conceito vem sendo apropriado, utilizado, deslocado, reapropriado de muitas formas de crítica ao capitalismo, servindo tanto aos afeitos quanto aos desafetos do processo de nivelamento das produções artísticas e culturais à mercadorização das sociedades. De um conceito exógeno à indústria – acadêmico, intelectual e dos círculos artísticos – passa, contemporaneamente, a ser utilizado pelos próprios veículos dessa indústria, não mais, certamente, com a força e pressão políticas empregadas pelos seus autores iniciais. Mas, de que sentido está recoberto o conceito dos frankfurtianos quando o lugar de enunciação é o próprio alvo crítico do conceito? Ou seja, o que se pode ler/ouvir quando a indústria da cultura fala de si mesma? Quando a televisão e o cinema, por exemplo, se propõem a ser críticos de si próprios, quais apontamentos são feitos ali? Muito frequentemente o emprego dessa temática aparece nas narrativas de ficção televisiva através de personagens jornalistas ou publicitários que representam um ponto de vista sobre o papel da indústria cultural nas relações em sociedade. No entanto, trata-se de referências pontuais sem maiores repercussões no enredo como um todo. Quarto veículo na linha de sucessão da indústria cultural, a televisão no Brasil vem ocupando importante lugar na cultura midiática desde os anos 50; foi rápida sua ascensão como bem cultural simbólico de maior audiência. No gênero teledramaturgia, a programação das emissoras brasileiras, em especial da Rede Globo de Televisão, vem recebendo também destaque internacional desde a década de 70, do século XX. As narrativas de ficção televisiva são apontadas pelas emissoras como produto de primeira linha na cadeia lucrativa e com êxito já garantido nas exportações. É, portanto, no âmbito da teledramaturgia que se pretende concentrar esta comunicação, enfocando como objeto “A vida alheia”, o seriado veiculado pela Rede Globo de Televisão, em episódios semanais, de 08 de abril a 25 de agosto de 2010 (1ª temporada). A narrativa do seriado tem como núcleo central a produtora de uma revista de variedades que compete num mercado acirrado pela venda de produtos efêmeros, que não garantem nenhuma longevidade de assuntos – cada número da revista “briga” pela atenção do público leitor. A cada semana, a revista expõe mais do mesmo, pessoas “famosas”, celebridades do mundo do espetáculo, que flagradas em momentos de intimidade são fotografadas e expostas à venda, atendendo mais aos interesses econômicos de quem detém os meios de divulgação, do que correspondendo à função social da informação. Portanto, cabe questionar se ao veicular um seriado como “A vida alheia”, a TV está diluindo a crítica e seus efeitos formadores de um telespectador astuto? Ou a crítica à indústria cultural já se expandiu de tal forma que se torna inevitável que a própria TV reflita sobre seus efeitos de industrialização? Ou, ainda, concordando com Adorno e Horkheimer (1985), o efeito da mercadorização das relações em sociedade é tão pungente que a própria crítica torna-se produto à venda sob a forma de ficção? Os estudos sobre a produção televisiva devem, então, persistir em seu papel de atualização/produção de conhecimento, enunciando novos conceitos ou reatualizando os já existentes. |
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Bibliografia | ADORNO, T., HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
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