ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Movimento em falso: o pós-dramático, o bildungsroman e o roadmovie |
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Autor | Pablo Gonçalo |
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Resumo Expandido | Lançado em em 1975, o filme Movimento em Falso (Falsche Bewegung) representa a consolidação do estilo de Wim Wenders, seu diretor, e sua parceria com Peter Handke, escritor austríaco que assina o roteiro. O filme também chama a atenção por ser uma livre adaptação do romance Os anos de aprendizagem de Wilheilm Meister, de Johann Wolfgang Goethe. Reconhecida como uma das obras seminais do romantismo alemão, o livro de Goethe é considerado um típico romance de formação (Bildungsroman) no qual busca-se uma harmonia entre a natureza e o indivíduo, assim como narra a passagem do protagonista para a idade adulta.
Esta apresentação na Socine pretende analisar a construção dramatúrgica e narrativa do filme de Wim Wenders `a luz dos trabalhos literários e das peças teatrais de Peter Handke. Curiosamente, o romance original de Goethe mostra um grupo de teatro que perambula entre diversas cidades da Alemanha e Wilhelm, o protagonista, acaba juntando-se ao grupo. É quando o jovem alemão descobre Shakespeare, encena Hamlet se apaixona e percebe as artimanhas da representação teatral. Goethe, portanto, enfoca o teatro. Sobretudo o teatro clássico, Shakespeare e o classicismo. Essa mesma proeminência do papel do teatro na formação do protagonista também é aproveitada na sua versão cinematográfica.No filme, Wilhelm também junta-se am grupo nômade de teatro. No entanto, vê-se um teatro de rua, focado na performance e com preceitos que fogem. Essa mudança não ocorre casualmente. Peter Handke é hoje considerado um dos principais escritores de peças pós-dramáticas. Peças como Kaspar e Publkumsbeschimpfung (Ofendendo a platéia), escritas alguns anos antes de Falso Movimento. apontavam para novas experimentações no palco, novas formas de abordar a atuação, a performance e a representação teatral. Hans-Thies Lehman interpreta essa nova dramaturgia como pós-brechtiana e, segudno, ele, essa nova forma narrativa se situaria em um espaço aberto pelas questões brechtianas sobre a presença e a consciência do processo de representação. Essas questões se estenderiam para o papel da estética teatral abordando uma “estrutura de sentimento”, conforme conceituado por Raymond Williams, que entrelaça uma nova arte de assistir, com um estilo inovador de performance e de escrita teatral. Autores contemporâneos (como Heiner Müller, Samuel Beckett e Botho Strauss) apontam para a repercussão de outras elaborações estéticas a partir do texto para teatro, como uma poética da perturbação, a utilização do palco e do espaço como um dado de linguagem (e não somente de representação), o uso de sons de diversas procedências que adquirem sentidos narrativos e implicações semióticas – um conjunto de características que acaba por compor uma “paisagem-textual”, segundo expressão de Hans-Thies Lehman. Um olhar atento a Movimento em Falso percebe a presença de alguns desses elementos pós-dramáticos na sua urdidura narrativa e estética. Não por acaso, a parceria entre Handke e Wenders apresenta um resultado exemplar do “texto-paisagem” sobre o qual pretendemos analisar detalhadamente. Boa parte da apresentação tentará investigar a consistência conceitual de uma narrativa pós-dramática para a linguagem cinematográfica, assim como na obra de Wim Wenders e de sua possível influência em parte do cinema contemporâneo. Juntamente aos filmes Alice nas cidades (1976) e No decurso do tempo (1974), Movimento em falso forma uma trilogia que retrata personagens em movimento: viajando entre cidades, países e locais diversos. Esses filmes são conhecidos como os primeiros road movies do diretor alemão. Essas três obras tornam evidente uma forte influência da cultura norte-americana na formação estética de Wim Wenders e Peter Handke. Essa apresentação na Socine também pretende apontar possíveis relações – temáticas, formais e narrativas – entre o road movie e o romance de formação. |
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Bibliografia | BUCHKA, Peter: Olhos não se compram: Win Wenders e seus filmes. Cia das Letras, São Paulo, 1987.
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