ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Vestígios do tempo: em memória dos cinemas de rua do Rio de Janeiro |
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Autor | Márcia Bessa (Márcia C. S. Sousa) |
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Coautor | Leila Beatriz Ribeiro |
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Resumo Expandido | Esse trabalho lança as bases para um estudo sistemático dos cinemas de rua – estabelecimentos ou salas de projeção cinematográfica erguidas no espaço urbano em meio às construções habituais – da cidade do Rio de Janeiro sob a ótica da memória social. Uma espécie de cartografia das marcas deixadas por essas salas de exibição cinematográfica no texto urbano. Uma taxonomia que se efetiva a partir dos rastros deixados pelos antigos cinemas de rua, vestígios inscritos no texto da cidade – vestígios cinematográficos.
Uma memória dos cinemas de rua do Rio de Janeiro deve, necessariamente, problematizar os vestígios cinematográficos como documentos e como elementos constituintes de um patrimônio cultural da cidade. O documento é memória. O vestígio cinematográfico é memória do cinema de rua. O documento vestígio cinematográfico é resto dos cinemas de rua. E esse resto pode ser uma pequena maçaneta na porta da entrada principal de um templo evangélico, no Méier, que substitui o antigo Art-Méier. Ou as grandes instalações do Cine Roxy, em Copacabana, ainda em funcionamento. Ou o nome do cinema Imperator, que continua habitando a fachada do que hoje se transmutou em um shopping popular no subúrbio carioca. Ou a memória de um frequentador de cinema, como bem aponta Moacyr Scliar (2010, 47, p. 549), “Os cinemas não morrem. Eles viram lembranças”. Ou ainda nos tombamentos de alguns prédios de cinemas de rua do Rio de Janeiro. Algo nessas ruínas, memórias, arquiteturas, nomes conectam intimamente os cinemas de rua ao espaço citadino que os acolhia (ou ainda acolhe). A relação entre os vestígios e os cinemas de rua aos quais eles denotam pode ser estabelecida através de um vínculo espacial na configuração urbana. Segundo Dodebei (2001, p. 61), “a formação de conjuntos de registros para espelhar a síntese de aspectos de determinada cultura ou culturas […] é representada pela intencionalidade na localização de vestígios, artefatos, textos, objetos, monumentos, com o intuito de interpretar os fatos históricos e sociais. O vestígio cinematográfico – marca deixada por um antigo cinema de rua no texto da cidade – pode ser considerado um documento na medida em que é uma representação transitória e motivacional do objeto escolhido do meio social para expressar ações e situações advindas do campo cultural. Começando sua trajetória de entretenimento tecnológico nos teatros – cafés-concerto, vaudevilles e feiras de variedades –, consolidando suas histórias (e sua história) nos cinemas de rua, tornando-se mais uma loja nos shopping centers, otimizando custos e multiplicando lucros nos complexos multiplex; o locus do cinema não é mais o mesmo. O cinema de rua parece ter entrado em xeque na contemporaneidade. Nossos estudos atuam sobre as formas de documentos como experiência social que pretende catalogar e traduzir certos rastros de nossa memória social. Procuramos pensar a questão dos cinemas de rua numa configuração documental em suas extensões e integrações ao nível patrimonial, entendendo tanto os elementos de ordem material quanto imaterial como dois lados complementares de uma mesma moeda chamada Patrimônio Cultural Brasileiro. Uma busca investigativa em torno da concepção de novas instâncias de documentação – mesmo que não integre a ordem do visível ou do instituído. |
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Bibliografia | ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.
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