ISBN: 978-85-63552-07-5
Título | Engenhar: a matéria como centro de sonhos na arte |
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Autor | Mariana Manhães Lima Falkenhein |
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Resumo Expandido | Inke Arns: Amy, você acha que existe alguma relação entre arte e engenharia? Amy Alexander: Sim, ambas constroem coisas. Engenheiros constroem coisas certas e artistas constroem coisas erradas. Mas, para engenhar, a pessoa não precisa ser um engenheiro. Então, alguém pode engenhar coisas erradas tão facilmente como coisas certas. Amy Alexander em entrevista a Inke Arns, 2008 O trecho da entrevista de Amy Alexander, artista e programadora, é o gatilho para iniciarmos uma reflexão sobre o uso de meios tecnológicos em obras de arte contemporânea: como os artistas estruturam suas obras a partir da subversão dos materiais que têm disponíveis, muitas vezes os deslocando de suas funções originais. Abordaremos o papel do homem perante os objetos técnicos de acordo com Simondon e a questão da combinação de conhecimentos em Gregory Bateson, que acreditamos ser bastante próxima da intermaterialização mencionada por Gaston Bachelard em sua obra O Materialismo Racional. Billy Klüver, um dos mais atuantes engenheiros a colaborarem com artistas e co-fundador do E.A.T. – Experiments in Art and Technology, avistava uma gama de possibilidades na colaboração entre artistas e engenheiros. Este é o ponto aonde queremos chegar: a arte, a engenharia e a imaginação estão mais próximas do que pode parecer e os limites que as separam não são tão rígidos, possibilitando trocas. Faremos referência a trabalhos de arte que são possíveis graças à colaboração entre artistas e engenheiros/técnicos, como a performance Open Score, realizada no emblemático evento 9 Evenings – Theatre and Engineering (série de performances ocorrida em Nova Iorque, em 1966), uma partida de tênis entre Frank Stella e sua parceira de jogo, Mimi Kanarek e que teve Klüver como engenheiro responsável pelo desenvolvimento de raquetes especiais. Também será abordado o desenvolvimento da obra Dentre, realizada pela autora desta proposta para exposição individual no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, em 2010. Tomando Dentre como exemplo, falaremos sobre a questão do uso dos materiais e como se dá o deslocamento de suas funções originais - que lugar esses materiais ocupam numa obra de arte, levando em consideração a potência da imaginação e a força que ela exerce sobre a matéria, valendo-nos das palavras de Bachelard: "a matéria é um centro de sonhos" (Bachelard, 2001: 55). No processo de criação de uma obra de arte, deve-se levar em consideração o papel do artista e o papel das coisas. Para Gilbert Simondon, o homem é o "permanente organizador de uma sociedade de objetos técnicos que precisam dele assim como músicos em uma orquestra precisam de um maestro" (Simondon, 1980: 13). As palavras de Simondon referem-se ao homem em geral, no entanto devemos vê-las aqui sob a perspectiva do artista que dispõe de uma gama de opções de materiais, mas fazem escolhas e reorganizam os papéis de objetos e coisas a fim de criar uma obra de arte. Bachelard, que chama a atenção para a potência da imaginação, menciona em seu livro O Materialismo Racional o que ele chama de intermaterialismo, ou seja, como se dá a relação entre as partes que compõem uma máquina (Bachelard, 1990: 25). Gregory Bateson se aproxima desse pensamento ao falar da combinação de conhecimentos. Devemos ver as propostas desses autores sob a perspectiva da construção de uma obra de arte. A apresentação ainda se valerá de vídeos e fotos de obras de arte relacionadas, especialmente do desenvolvimento da obra Dentre, mencionada acima: como se deu o processo de escolha de materiais, adaptações e readaptações, que resultaram na instalação realizada no CCBB, em 2010. |
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Bibliografia | BACHELARD, Gaston. A Terra e os Devaneios da Vontade. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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